quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Vem aí o Blog do Carlinhos, Antônio Carlos de Oliveira, falecido precocemente. Este amigo tem várias de suas poesias. O Carlinhos costumava escrever em folhas soltas, e, como era de costume, dava de presente várias obras. Assim, conto com a ajuda das pessoas que receberam poemas do  Carlinhos para que o seu Blog tenha o maior número possível de seus ensinamentos, seja em forma de poemas, seja em forma de textos políticos.
De alegria ou melancolia
Adormecerás, por certo
Mas como acordar...Como?
Sem as notícias da madrugada
Sem as teclas dos internautas
Sem os acordes dos violonistas
Sem o espanto dos poetas
Sem os gemidos dos amantes?


terça-feira, 26 de novembro de 2013



Dorme, Porto Alegre.
Não consigo dormir
Ousei sem destino sair
Por toda a noite era silêncio
O silêncio de um passeio público
Madrugava um lirado  neon.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

PORTO ALEGRE ESTÁ DORMINDO

Dorme, Porto Alegre.
Não consigo dormir.
Me confundo na tua veia,
Nas ruas irradias
O que penso encontrar.
É tanto despertar!...

quinta-feira, 21 de novembro de 2013


EM PRIMEIRA PESSOA



Na primeira pessoa
me transmuto em rimas,
me conjugo em verbos.
O presente, o passado, o futuro
Eu declamo.

Na primeira pessoa
o livro açoita a loa.
Como um poeta medieval,
escrevo no singular,
Vocês leem no plural.

A primeira pessoa
em regras gramaticais
comigo flexiona.
Ela apenas discorda
se nas metáforas me abrigo,
se as diáforas explico.
Regente sem mérito,
caio na teia do pretérito.

A primeira pessoa
textualmente anuncia:
ficção é fotografia,
realidade é fantasia.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013


TAREFA


                        Hei de buscar
                       Do urbano a resposta.
                        Não há movimento
                        Não há rotação
                        Uma ungida   tarefa.

                        Porque gira  moinho
                        Essa inane farinha. 

                        Se for preciso
                        Respira em aurora
                        Imola ou arvora
                        De  fruto e suor
                        A pessoa melhor.
                                 


                                   Elmo Wyse Rodrigues

                       

terça-feira, 15 de outubro de 2013


UM TEMPO DIFÍCIL

 

Há um tempo difícil
E é de todos nós
Há um vento inteligível
Arrasta  até viramos sós.
 

Chega um mundo visível
Tão claro e cometa
Assim como agride
Global simula afagar.
 

Ficamos  imunes
Vacinados e espúrios
Livres da pungência alheia.

 

Há um tempo difícil
A nos deslumbrar
Há um vento incrível
Nem podemos andar...
 

Chega um ego e cega
A política alquebrada  só nega
A miséria da nossa aldeia
A pobreza da nossa inveja...

domingo, 6 de outubro de 2013


Ponto de Partida


Vou transpassar
a  parede da solidão,
vencer o cansaço
do meu coração
e libertar as amarras
que tolhem meu ego. 

Vou transpor
os muros que construí
- lembro-me bem – em um inverno
quando estava só
em meio a tantas pessoas (?)
e exaltar meu verdadeiro eu. 

Quero lançar às águas
esse navio de expectativa e fé,
hoje com as âncoras enferrujadas
n’algum porto vazio,
porém com piratas de sentimento... 

Não almejo, por outro lado,
metáforas, arquétipos, meias-verdades...
Parto em busca da essência,
que perdi  num vago trecho
no trajeto de volta pra casa
quando, migrante precoce,
tentava ser sujeito da própria história.


Poema original que se transformou em letra com a parceria do grande poeta Antonio Carlos de Oliveira (1957-2012). Música gravada pelos Corsários do Parque em seu CD. O poema foi premiado e publicado pelo Instituto da Poesia Internacional no livro "Mil Poetas Brasileiros, Volume 30". Obra organizada pelo poeta e crítico literário Toni Carré, em 1994.


quarta-feira, 18 de setembro de 2013


 DELICADEZA

Eu quero manter  
A delicadeza da nossa relação
Eu sinto a entrega.
O teu corpo traduz .


Elmo Wyse Rodrigues

terça-feira, 3 de setembro de 2013


Universalidade


O que viceja, em outras palavras,
Assume os ares, uma cosmovisão.
Desnecessário dizer, lento aparece,
Nas entrelinhas, o ser universal.
Não é o que chamam globalização.
Não é corrediço nem marasmo nem cerração.
Prescinde fronteiras, está nas origens.
É mundo. O que pulsa nas veias.
A essência de nós. Transcende os lábios,
Posto que ideia.
Quem sabe de nós se exime de glebas, xenofobias.
O suspiro do vampiro neoliberal não resiste
Ao sopro das dobras do mundo.
Quem vem como farsante não passa de um múrmuro.
Rasura a linguagem. Passante do nada.
O que cosmopolita cativa flui das vertentes.
Não nasce em genoma o sentido da existência.


         Elmo Wyse Rodrigues

quarta-feira, 31 de julho de 2013


CE QUE DENOMMENT DE TARD…

 

Le soleil éclatait le visage. Je me suis réveillée au sud, l’extrême sud.

Pas de nord ni de chimères. J’ai pris le café habituel. Le pain durci, je le mâche.

Quelqu’un a dormi ? Pas moi. Rien plus, rien de mauvais.

La voisine à nouveau a frappé la fenêtre. Sur mon visage.

Le soleil au visage, la voisine en face, le désir dans la peau.

C’est aujourd’hui. Plus un jour.

Pendant la nuit, la semaine dernière, j’ai entendu quelqu’un hurler : les jours sont tous les mêmes!...

Je trouve bête la vie, je la trouve.

Hâté et fatigué, les rues sans rupture. C’est juste un rituel. Rien moins.

Le tout de la journée, égoïste dans ma chambre, j’ai noté sur mon journal, une fraction en plus.

Coin a coin, je pense au monde et dans qui le peut changer – peut-être d’endroit. Ou de mon salon.

Qui fait du sens, qu’est-ce que fait du sens dans cette rotation ? A qui parler ?

 

L’ascenseur par étage m’écoute.

Les rues pavées, sont très peu sur lesquels j’ai marché. C’est une longue journée. Après je la te raconte.

Un billet froissé. Une chemise repassée. Un pied sur la route. L’autre froissant la pierre.

Le vent siffle. L’ami au coin de la rue. Ne trébuche pas, la chaussée ! Ne fait pas de nouvelles sur la chute.

Je juste tombe sur la route. Je n’ai pas besoin de mouchoir, Caetano. La gorge étouffe.

La ville brume le noble acide : d’une telle dense monte en poudre.

Qui travaille dans les cendres le sait : tout qu’émane c’est le silence du matin.

Calme-toi soldat. Qui ose crier de ruelles ? Oui, le silence c’est l’art, Susan Sontag.

La monnaie de la fibre, se rase et murmure, c’est la veine tranchée ; envahi et libère la voix de la cave.

Un pied sur la route. Je ne peux pas m’arrêter. Si je pense c’est déjà tard.

 

Quand arrive l’après-midi, il tourne le constante dans le film des heures.

Les rides et les yeux tournés contemplent la nuit du jour.

Pourquoi appellent-ils de tard ce qui vient de naitre ?

Depuis petit j’ai cru que le pêcheur récoltait le filet et gardait le temps qui restait à la mer.

Disparaissaient sous les lumières : le courage et le clair de lune.

Aujourd’hui il reste dans la poche l’argent qui m’a couté la vie

C’est bizarre quand je me réveille, je suis un miroir d’un temps aux chandelles.

Personne n’a éteint. Il n’y aucun personnage qui parle à soi-même.

Il y avait des soldats de vert. De ceux-là je ne veux pas me rappeler.

Combien vaut l’absence d’un père, d’un idéal qui s’est allé ?

C’est sûr que dans le vert freine du feu rouge, j’abrège l’avenir.

Dans le regard du présent déchiré et terne ; A peine je n’ai pas le droit de faire la lecture comme si l’espérance c’était un excentrique acte. Amer et plomb.

Je casse la mémoire, je la noue et la pelote.

Dans le vitrage sombre se passe une génération. Si je pense que c’est tard je ne peux pas m’arrêter.

Si je me penche sur la pluie, d’autres sont les tournesols

Le rut du couteau affile le sens, épluche et tourne le fil des idées.

 

Ecoute la voie mon gars. Ouvre le verbe et viens voir le coup de l’ordre

Lâche-moi dormir réveillé. La journée c’est longue, et elle parle par soi-même.

 

* Poème en prose extrait du livre « Noturno Verbal » (Soirée verbale).

 

Elmo Wyse Rodrigues: poète et compositeur, auteur du livre « Fuga n. 3 ».

Porto Alegre - Brésil

quinta-feira, 25 de julho de 2013


CERIMONIAL

 Vou  abrir a cerimônia.
Não chegaram os convidados.
Presentes alguns personagens
Em meados de inverno.
Vou abrir a cortina.
Nunca tive medo de mim,
Nem das contingências verbais.
A estrada é um desafio.
Eu o aceito a cada paragem.
Não tive idade para
Ser banido.  Mas  fui ferido:
Sou deserto e travessia.

 

sexta-feira, 19 de julho de 2013

terça-feira, 9 de julho de 2013


 ESPELHO & FANTASIA


                       




Não posso me preocupar por que perguntam se não vou mais poetizar. Quando cantei na canção que não pretendia escrever, não lia ensaios, pouco sabia de mim. Dar publicidade ao silêncio. Eis a questão.  Lacan foi profundo demais quando publicou a sua angústia. Ultimamente prescrevo niilismo, logo pareço descrente ou triste vivente. O que gosto da vida, desinteressa, é banal. Um literato esperam. Assim como eu, confundem e consomem na mesma mesa um ancestral e a literatura. O apetite está no licor. Um dia um amigo falou, ao ler um poema: levaste mesmo três tiros? Respondi: muito mais! Na verdade mistifico demais. A arte nasceu da fábula, uma metáfora, briga de rua: um se dizia fariseu; o outro, diabo. Como eu tinha muitas vidas sangrando, traduzia  dramas. Porque ler  ficção entre profetas inebriados, ser druida na alucinação - essas criaturas já rondavam os burgos da classe média. Nada sei! Estou no meio do fantasma e a fantasia. Se quiserem mesmo saber, só escrevo na primeira pessoa por desígnio de quem luta e não sabe o jogo, a técnica de dividir em atos o laudo das escrituras. Há mais de trinta anos escrevo. Utopia e vontade. Sem pretensão. Esqueçam. Sou apenas um internauta cinza que caminha perto do espelho e  senta na cadeira para aplaudir a multidão.




                             E.W.R.


      
Prosa poética do livro inédito "Noturno Verbal"

sábado, 29 de junho de 2013


                                            NO LIMITE

Andava inquieto e rebelde. Descobri um sentido. Só pode ser. Mesmo sentindo um motivo primal, caminhei  e vaguei. De tanto, achei  cidade e promessa. Parava incerto, os olhos decerto no céu. Doía o peito antes de ser coração. Já sei. Não posso voar. Afastei  a incompreensão. Escrevia assim, forjando papéis. Enquanto engenheiro, calculava poemas. Durante  andaime, nascia  poeta. Pra ser arquiteto, chamei as estrelas. Não posso voar. Se voo sou louco, se pouso sou tonto. Pensei ser claro seguindo o sol.  A química das nuvens cerrava meu corpo. Procurei pelos bares. Esperei das pessoas. Esqueci de existir. Abri tantos livros... jamais saíram inteiros. Talvez a urgência. Não vejo motivo. Tanto sobrado em vão. Não sou um Rimbaud. Tão calado fiquei. Quase perco a quimera. Ficar solto em frases quando Pessoa presente de tudo falou. Sei lá, foi a inércia, a rotina suada, ou quebrava em tempo, ou explodia por dentro. Não pensem que sofro – só declaro uns dias melhores. No limite  observo. Achei um sentido. Não posso voar. A maturidade segura o sentido do termo. Se nunca fiquei, não viajem por mim. Não apontem os dedos. Não aceito ingerência. Sei bem cobrar do que sou capaz. Não cresci dessa moral. Só atira uma pedra quem da pedra saiu. No limite sou quieto, não abusem do "certo".

                                                 E.W.R.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013


AMÉRICA







                        O que fazer deste mundo senão sangrar?


                        As pétalas o cálice cortaram...


                        Um grito tribal acorda a vertente.


                        América chora! Chegou tua hora


                        A tua mestiça história ninguém calará!


                        Outrora cortaram tua língua


                        Em vários dialetos hoje gritarás.




                        O que fazer dos Andes senão sonhar?


                        Inútil falar da fotografia nevada


                        Servida em fatias, um doce jantar


                        Índios rebeldes,  domem a Constituição.


                        América  corta galeana as veias


                        Estanca a fome, a sede dos teus ancestrais
                        


                        O que faz um homem senão caminhar?


                         Menina atiça sangrando


                        E masca serena a igualdade do pão.


                        América vibra! Teus filhos chegaram


                        Ao sol se abraçam


                        Como um livro aberto.


                        Um ventre parindo.




                        América explode!


                        Sem vingança ou ode


                        Mas vigia as armas


                        Ou vão te trair...


                                       Elmo Wyse Rodrigues


                                             

sexta-feira, 14 de junho de 2013

                                               QUINTAL FECHADO


                                               Chegando no prédio voei para dentro de casa. Todo caminho eu escolho a rota. Não abri a porta. Sou feito de grades e aço. Na sobra, pura vidraça... Respirei na sacada comedido o ar. Escuto  a lua para elaborar  um texto.  Por que quando chego não vejo o relógio? Bem-vindos à sala. Olá, sofá arranhado. Patti Smith cantando. De novo só um antigo vinil. Não ouvir telefone. Uma regra básica. Ele conspira contra o silêncio, berço esplêndido da melodia.  Uma via da regra. Nem sempre deveria ter outra voz na mesma linha. Quando quero vou falando a esmo e rindo de nós. Fora da linha. Sou bem-humorado se me deixam falar. Falar para si é aprender a ouvir. Acabei no ditado uns rascunhos por não saber recitar. Um dia gritei tão alto, quando me dei conta  estava dentro da tevê.  Já me disseram que estou na fronteira. Pouco sei da loucura; o que sei sai translúcido. Eu não entendo por que no condomínio explodem portas e quebram janelas. Por isso não tenho agenda e me ajeito em cada lugar onde morei. Eu não sou daqui. E daí? Cresci na essência. Estou fora da casa e dentro de um apartamento. A serenidade vagamente lembro de cor. E foi pelas andanças tardias.  Gosto da vida. Não me levem a mal. Saber calibrar o açúcar do sal. Ao largo da culpa, pois não inventei a imperfeição. Com licença, é tão bom existir. Vou anotar.  Nem sei como trouxe quase tudo que pensava. Os cadernos estão comigo. Mas não me sinto dentro deles.  Não sou escritor da elite. Sou de bairro operário. Construí meu caráter alhures, mesmo sem ter  benesses da vida.  Quero passar, quem quiser que me leia. Se falar em política o poder e a grana podem mudar de partido.
 Eu não faço concessão porquanto a luta me chega em  ideia. Ser livre é isto, expandir a caneta, agrade ou não.  Se consigo acesso prefiro culturas. A erudição me chateia. Não a cultura que serve de estátua e não quer mudar. Este micro-ondas um dia arrebento! Primeiro vou aquecer um pouco do bife. Querem a receita do sucesso? Pão com bife. Depois coloco no prato um blues. Vou continuar a missiva. Trinta anos depois voltei a blefar no pife e na bolinha de gude. Verdade! Só não posso olhar dois Camus pela frente. Guardarei  na gaveta, os livros e os planos. Noite fechada. Sem despedida, larguei a escrita. Boa noite, solidão.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Quarto Andar



                           QUARTO ANDAR



                   Nem centro nem ego
                   Epicentro seja defesa
                   É precisa e decide
                   Vaidade não soma
                   Autoestima constrói
                   Sobe degraus
                   É quarto o andar
                   Tempo presente futuro
                   Clareia e areja
                   A cinza abertura
                   Cai massivo o tijolo
                   A regência  verbal
                   Avisa a hora
                   Um hóspede chegou
                   O arco era  frio
                   A harmonia da chuva
                   Só recua na calha
                   Sobe a escada
                   É quarto o andar
                   A vida é incerta
                   Por isso é tudo
                   Meditar é mudar
                   Virar a esquina
                   Louca ousadia
                   Antes da roupa
                   Passar o passado
                   Abrir a cortina
                   Quando vem a mudança
                   Vem inteira e nova
                   Abrir a janela
                   Atrás o biombo
                   Do que sobrou da rotina
                   Adiante a vitrine
                   Terracota por dentro
                   Um jardim afora
                   No  terraço um pêssego
                   A moça comeu




                   E.W.R.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

O que chamam de tarde...


O QUE CHAMAM DE TARDE...


O sol explodia o rosto. Acordei ao sul, extremo sul. Sem norte nem devaneios. Tomei o café costumeiro. Pão dormente mastigo. Alguém dormiu? Não eu. Nada de mais, nada de mal. A vizinha de novo bateu a janela. Bem na minha cara. Sol no rosto, vizinha na cara, desejo na pele. Mas hoje é dia. Mais um dia. De madrugada, semana passada, ouvi alguém uivar: os dias são todos iguais!... Eu ando achando, tola vidinha eu ando achando. Apressado e  cansado, sem ruptura nas ruas. É só ritual. Nada de menos. O todo do dia, neste quarto de hotel, anotei num diário, uma fração a mais.  Bairro a bairro, eu penso no mundo e quem pode mudá-lo - talvez de lugar. Ou da minha sala. Quem faz sentido, o que faz sentido nessa rotação? Com quem conversar? O elevador por andar me escuta. De concreto, poucas ruas vaguei. Há uma longa jornada. Depois te conto. Antes vou consumir a tinta da ribalta.  Um bilhete amassado. Camisa passada. Um pé na estrada. Outro amassando a pedra. O vento assovia. Amigo na esquina. Não tropeça no pé, meio-fio! Não faz notícia da queda. Eu só caio na estrada. Não preciso de lenço, Caetano. A garganta esgana. A cidade neblina o nobre ácido: de tão denso sobe em pó. Quem labuta nas cinzas, bem sabe: tudo que emana é calada manhã. Calma, soldado. Quem ousa das vielas gritar?  Sim, o silêncio é arte, Susan Sontag. O troco da fibra, se raspa e resmunga, é veia partida; invade e vaga a voz do porão. Um pé na estrada. Não posso parar. Se penso é tarde. Quando chega a tarde roda mesmice no filme das horas.  Rugas e olhos virados miram a noite do dia. Por que chamam de tarde o que está por nascer? Desde pequeno acreditei, o pescador recolhia na rede e guardava o tempo que sobrava no mar. Desaparecia nas luzes: coragem e luar. Hoje sobra no bolso o metal que me cobra o custo da vida. Quando acordo, é estranho, sou espelho de um tempo a velas. Ninguém apagou. Não há personagem que fale por si. Havia soldados de verde. Desses não quero lembrar. Quanto vale a saudade de um pai, um ideal que se foi? O futuro ficou. Ao olhar o presente rasgo rito e um terno; só não tenho o direito de fazer a leitura como se fosse a esperança  um excêntrico ato. Amargo e chumbo. Parto a memória, laço e novelo. Mas não vira herói quem tortura sementes. Enquanto turvo a vidraça, passa uma geração. Se penso que é tarde, não posso parar. Se me debruço na chuva, outros são girassóis. O cio da navalha afia a vertente, apura e gira o fio das ideias.  Escuta a via, rapaz. Abre o verbo e vem ver o corte da ordem. Deixa eu dormir acordado. O dia é longo, e fala por si.







ASSIM GRITA A HUMANIDADE   SEGUNDO UM MUDO POETA  




O grito poético de Rimbaud /


O grito selvagem de Jack London /


O grito andaluz de Garcia Lorca /


O grito primal de John Lennon /


O grito andarilho de Walt Whitman /


O grito rebelde de James Dean /


O grito existencialista de Sartre /


O grito folk de Bob Dylan /


O grito incendiário de Joana D’Arc /


O grito teatral   de Shakespeare /


O grito calabar do Chico Buarque /


O grito vermelho da Rosa Luxemburgo /


O grito guerrilheiro de Guevara /


O grito satolep de Vitor Ramil /


O grito oriental de Buda /


O grito anarquista de Bakunin /


O grito Iisérgico de Jim Morrison /


O grito convulsivo de Dostoiévski /


O grito underground de Marcuse /


O grito heterônimo de Fernando Pessoa /


O grito feroz de Maiakóvski /


O grito urbano de Renato Russo / 

O grito rural da Via Campesina/

O grito quilombo de Zumbi / 



O grito visceral da Janis Joplin /


O grito beatnik de Jack Kerouac /


O grito lírico de Cecília Meireles /


O grito debochado do Barão D’Itararé /


O grito vagabundo de Charles Chaplin /


O grito liverpool dos Beatles /


O grito evolucionista de Darwin /


O grito comunista de Marx /


O grito inconsciente de Freud 


  


ELMO WYSE RODRIGUES