quarta-feira, 27 de junho de 2018

Longe de tudo / Longe de ti / Longe de mim / Perto de ninguém.




Talvez fale demasiado em vivências, apesar de tecer poucas páginas a respeito do meu passado. Até por acreditar no mundo literário e suas devidas paralelas - reais ou não. E assim  desapareci entre árvores, plantas e flores, conforme relatos familiares. Tinha pouco mais de um ano de idade. Emudecido. Isso ocorreu quando nos mudamos para a casa nova. Me perdi deveras. Sei lá quantas horas demoraram no resgate. Ao me sentir livre das tristes convulsões da primeira infância, atropelei um automóvel veloz. Tentava atravessar, voando, a Santos Dumont. Cinco anos. Desmaiei, de novo. Tivemos a nossa casa completamente cercada para prenderem um homem só. O meu pai foi sequestrado e roubado do convívio familiar. Ainda uma vez, fiquei calado, brincando com soldadinhos de chumbo. Seis anos. O melhor amigo da escola, também com nove anos, foi atropelado por um caminhão. Morreu. Estava na minha casa, trocando gibis. Lembro o cuidado e o carinho da minha mãe. Da atenção de todos os meus irmãos, alguns já se foram. Lembro a segurança que nos passava o pai - embora ele mesmo estivesse em meio a intempéries. Lembro, sim! Principalmente dos tempos bons. Precisa ser desse jeito. Uma infância protegida. Deveria ser pra todos. Guardo com gratidão a única fotografia, em preto e branco, que me restou da época. Talvez traduza no presente uma forte experiência: ter passado exatamente seis anos na psicoterapia. A partir de então, carrego no bolso dois verbos aonde andejo. Racionalizar / Verbalizar.  Gosto de descrever opostos, no entanto, como literatura. Fugas poéticas. Eis  o título-tema do  meu novo livro, Noturno Verbal.  Talvez tenha encontrado uma justificativa plausível para coexistir em letras. Aprendiz de mim. O suficiente para perambular no rol dos anônimos estupefatos e cidadãos anestesiados, porque sobrevivemos milhões.

                                     Elmo Wyse Rodrigues



Duas da manhã. Até que este texto foi rápido, dois dias.



 






Longe de tudo / Longe de ti / Longe de mim / Perto de ninguém.


Talvez fale demasiado em vivências, apesar de tecer poucas páginas a respeito do meu passado. Até por acreditar no mundo literário e suas devidas paralelas - reais ou não. Desapareci entre árvores, plantas e flores. Tinha pouco mais de um ano de idade. Isso ocorreu quando nos mudamos para a casa nova. Me perdi deveras. Sei lá quantas horas demoraram no resgate. Quando me vi livre das tristes convulsões da primeira infância, atropelei um automóvel veloz. Cinco anos. Desmaiei, mais uma vez. Tivemos a nossa casa completamente cercada para prenderem um homem só. O meu pai foi sequestrado e roubado do convívio familiar. Seis anos. O melhor amigo da escola, também com nove anos, foi atropelado por um caminhão. Morreu. Estava na minha casa, trocando gibis. Lembro o cuidado e o carinho da minha mãe. E da atenção de todos os meus irmãos. Lembro a segurança que nos passava o pai - embora ele mesmo estivesse em meio a intempéries. Lembro, sim! Principalmente dos tempos bons. E deve ser desse jeito. Talvez traduza uma forte experiência: ter passado exatamente seis anos na sala de um psicoterapeuta. Gosto de escrever opostos. Fugas poéticas. Eis a origem do título do meu segundo livro. O contrário aconteceu. A partir de então, carrego no bolso dois verbos aonde andejo. Racionalizar / Verbalizar. Uma infância protegida. E assim deve ser pra todos. Guardo com gratidão a única fotografia, em preto e branco, que me restou da época. 
Talvez tenha encontrado uma explicação plausível para coexistir em letras. Aprendiz de mim. O suficiente para perambular entre anônimos estupefatos e cidadãos anestesiados, porque sobrevivemos milhões.

                         Elmo Wyse Rodrigues

quarta-feira, 13 de junho de 2018

CÉUS DE DAMASCO CHEGANDO!!!
 

E foi pelo próprio autor que recebi a importante notícia, emocionante e emocionado. O primeiro disco solo do Leonardo R.Gaubert foi concluído. E quem não conhece ainda o talento do Leonardo vai se surpreender com a qualidade e originalidade do CD. Ele escreve música e canta poesia, ou vice-versa; atesta que essas artes se abraçam na mesma nascente. Harmoniza a simbiose com o lirismo genuíno e rasgado da sua voz. Apesar de jovem, há anos lapida o braço do violão, toca com muita habilidade as notas - mais que cordas, sentimento. Anota versos como um grande artesão. Experimenta melodias sem a angústia de ter a pressa do fácil mercado; por isso tem um cântico belo. Estuda acordes como quem verte o sangue das veias. Não tenho dúvidas, é um grande trabalho, pois já tive o privilégio de conhecer as outras canções. Assim que receber a ficha técnica, vou falar dos músicos que participaram das gravações, da produção e dos técnicos do estúdio. Já sei que o professor Gilberto Oliveira participou com entusiasmo dos takes .Por enquanto, duas amostras do que vem por aí. Saudações à arte que mantém todos nós vivos e com o sentido e a sensação que temos de estar presentes e com a alegria dos olhos, aqui & acolá - não obstante as adversidades do nosso tempo. Se soubermos, felizes, ser o mais, haveremos de saborear o gosto do mundo...

Elmo Wyse Rodrigues


SE NÃO FOR DEMAIS
(Leonardo R. Gaubert)

Se não for demais
Entra nessa porta e busca
o que há
De mim, de nós, de ti.

Se não for em paz
Deixa tudo como
deixamos um tempo
Atrás, como um sopro
do mar.

Quando for frágil demais
Livres, sóbrios, dentro do
silêncio.

E se for a sós
Lembra o vento que te
roubou um beijo
E levou todo o mal de
mim.

Se não for pior
Conta o tempo em que
estivemos longe
Daqui,
Que em teus olhos me vi.

Quando for frágil demais
Livres, sóbrios, dentro do
silêncio.





Leonardo_Se não for demais.

Leonardo_DESNUDO_

Leonardo_Se não for demais.

sexta-feira, 8 de junho de 2018

A LÂMINA DO TEMPO

Pelos quintais do mundo
Com as vestes de outono
Andei todo esse tempo.

Sangrei pelo flagelo,
Torturas e grilhões.

Sangrei na engrenagem
Ferrolhos desse país.

Por ver tanto cipreste
Crescer amargo e triste,
Morte e exílio.

No entanto chega outubro
Taciturno afio o dia.

É cortiça o palácio
É ladeira o palanque
De fornalha é a fome.

A fome é fogueira,
Fogo e madeira.


Poesia: Elmo Wyse Rodrigues
Música: Marco Dziekaniak / Cristiano de Oliveira