quinta-feira, 29 de outubro de 2015

O QUE SE MOSTRA É ARTE


Naveguei em tempos de temporais
Essa dor inexplicável
Longe de mim
Nunca sei o que fazer
Antes preciso
Toda lição faz sentido
Todo inverno eu grito
Perdi-te em vida, poesia
Ainda nem mesmo decifrei
A barra do dia me fez voltar
Tentei achar algum poema
Um dia após virar cimento
Por entre velhos cadernos
De quem digere as palavras
Outros  outubros partiram
Como um livro aberto
Tingir a tua emoção
Poeta reprimido
Não uso retórica: eu me entrego
Untei as mãos de esperança
Sem objetos explodindo no ar
Antes de permanecer ausência
Cortei o impulso das horas
Enquanto tarda o sol
Dramas pintados em vão
Eu sobrevivo
O meu peito não resiste
Ousei sem destino sair
Dentro de vinhos quebrados
Entre o vazio do alicerce
Sem qualquer intenção
Não suporto mais a neblina
O que faz sentido nessa rotação
Na fragilidade das horas
Entre o ser e o mar
E foi pelas andanças tardias
Nem centro nem ego
Que saia do lixo
Não preciso mais entender o mundo
Quando eu despontar ele se extravia
Não desabafo, somente respiro
Posso até sair
Estou de novo na estrada
Vou abrir uma janela direta pro mundo
Não esperem de mim a salvação
O que se mostra é arte...

E.W.R. 


 Versos aparentemente soltos e livres  recolhidos dos poemas do livro NOTURNO VERBAL.

terça-feira, 20 de outubro de 2015






VENTO SUL



Vento Sul
vem me soprar
além do mar azul.

Vento Sul
vem me mostrar
aquém do céu anil.

Não aguento mais chegadas
e eu aqui sozinho no cais.

Vento sul
me leve bem longe deste porto,
deste poço de iniquidade.

Carregue-me, Vento Sul,
nas asas daquela gaivota.
Não suporto mais a neblina
e a indiferença da maresia.

Sopre com força,
Vento Sul,
e me apresente a aurora...
o seu olhar inebria.

E.W.R.





A foto só identifiquei o sobrenome do autor: Anjos. 
Mas é belíssima, fica no porto antigo da cidade de Rio Grande.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

OLHAR CIGANO

Outros outubros partiram
este coração disponível.

Passei frio descolado,
e  assim prorroguei abraços
nas ligas do teu violão.

Oh! Tirana mulher
Não vem brincar de amor,
Nem disparata o meu afeto-refém.

Oh! Cigana mulher
Cortei-me em teu outubro. 
Debela esses mistérios -,

Ou me tranco neste abrigo,
Ou debando em disparada,
como um cancioneiro em dó,
até o último dos meus dias. 

E.W.R.







segunda-feira, 5 de outubro de 2015


PÂNTANO DO SUL


Pântano do Sul
margem vegetal
mediterrâneo azul
imagem de nós

És fruto do mar
és seiva enluarada
és água ardente
és húmus e vida

 Pântano do Sul
caleidoscópica baía
de peixes apressados
de peles bronzeadas

Pântano blue
estanca as lágrimas
o curso d’água passou

Tuas ruas de Açores
estreitas e líricas
teus bares cerzidos
de mulheres e homens do mar
Pântano de nós
enquanto tarda o sol
aquece as estrelas 
recolhe a rede da armação
arrasta o barco da solidão

Pântano azul
embeveci teu orvalho
saciei tua areia
amanheci teu calor

Jamais vou esquecer
o bálsamo das águas
a geografia do teu olhar

Pântano sul
norte do nosso amor

E.W.R.


 



                  Fotos: arquivo pessoal do Autor