domingo, 28 de outubro de 2018


E continuamos na estrada, com vários projetos, tentando levar por onde conseguirmos andar, Literatura & Música - e sem concessões.



Corsários Acústicos no Estúdio 785, São Paulo, bairro Pinheiros (SP). Esta música entrará no terceiro CD, que será gravado totalmente acústico, cujas gravações iniciarão em Sáo Paulo ,em dezembro próximo. A ideia é lançar um vinil e um CD. Sendo que o vinil será de um lado CORSÁRIOS DO PARQUE e  o outro lado CORSÁRIOS ACÚSTICOS.

#corsáriosacústicosnaestrada


Corsários Acústicos no Estúdio 785, dos brothers  Marcelo e Eduardo - local onde vamos lançar o segundo CD, em sua segunda edição, na Caverna 785.

#corsáriosacústicosnaestrada

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

O QUE CHAMAM DE TARDE...

O sol explodia o rosto. Acordei ao sul, extremo sul. Sem norte nem devaneios. Tomei o café costumeiro. Pão dormente mastigo. Alguém dormiu? Não eu. Nada de mais, nada de mal. A vizinha de novo bateu a janela. Bem na minha cara. Sol no rosto, vizinha na cara, desejo na pele. Mas hoje é dia. Mais um dia. De madrugada, semana passada, ouvi alguém uivar: os dias são todos iguais!... Eu ando achando, tola vidinha eu ando achando. Apressado e  cansado, sem ruptura nas ruas. É só ritual. Nada de menos. O todo do dia, neste quarto de hotel, anotei num diário, uma fração a mais.  Bairro a bairro, eu penso no mundo e quem pode mudá-lo - talvez de lugar. Ou da minha sala. Quem faz sentido, o que faz sentido nessa rotação? Com quem conversar? O elevador por andar me escuta. De concreto, poucas ruas vaguei. Há uma longa jornada. Depois te conto. Antes vou consumir a tinta da ribalta.  Um bilhete amassado. Camisa passada. Um pé na estrada. Outro amassando a pedra. O vento assovia. Amigo na esquina. Não tropeça no pé, meio-fio! Não faz notícia da queda. Eu só caio na estrada. Não preciso de lenço, Caetano. A garganta esgana. A cidade neblina o nobre ácido: de tão denso sobe em pó. Quem labuta nas cinzas, bem sabe: tudo que emana é calada manhã. Calma, soldado. Quem ousa das vielas gritar?  Sim, o silêncio é arte, Susan Sontag. O troco da fibra, se raspa e resmunga, é veia partida; invade e vaga a voz do porão. Um pé na estrada. Não posso parar. Se penso é tarde. Quando chega a tarde roda mesmice no filme das horas.  Rugas e olhos virados miram a noite do dia. Por que chamam de tarde o que está por nascer? Desde pequeno acreditei, o pescador recolhia na rede e guardava o tempo que sobrava no mar. Desaparecia nas luzes: coragem e luar. Hoje sobra no bolso o metal que me cobra o custo da vida. Quando acordo, é estranho, sou espelho de um tempo a velas. Ninguém apagou. Não há personagem que fale por si. Havia soldados de verde. Desses não quero lembrar. Quanto vale a saudade de um pai, um ideal que se foi? O futuro ficou. Ao olhar o presente rasgo rito e um terno; só não tenho o direito de fazer a leitura como se fosse a esperança  um excêntrico inverno. Amargo e chumbo. Parto a memória, laço e novelo. Mas não vira herói quem tortura sementes. Enquanto turvo a vidraça, passa uma geração. Se penso que é tarde, não posso parar. Se me debruço na chuva, outros são girassóis. O cio da navalha afia a vertente, apura e gira o fio das ideias.  Escuta a via, rapaz. Abre o verbo e vem ver o corte da ordem. Deixa eu dormir acordado. O dia é longo, e fala por si.




O QUE CHAMAM DE TARDE...

O sol explodia o rosto. Acordei ao sul, extremo sul. Sem norte nem devaneios. Tomei o café costumeiro. Pão dormente mastigo. Alguém dormiu? Não eu. Nada de mais, nada de mal. A vizinha de novo bateu a janela. Bem na minha cara. Sol no rosto, vizinha na cara, desejo na pele. Mas hoje é dia. Mais um dia. De madrugada, semana passada, ouvi alguém uivar: os dias são todos iguais!... Eu ando achando, tola vidinha eu ando achando. Apressado e  cansado, sem ruptura nas ruas. É só ritual. Nada de menos. O todo do dia, neste quarto de hotel, anotei num diário, uma fração a mais.  Bairro a bairro, eu penso no mundo e quem pode mudá-lo - talvez de lugar. Ou da minha sala. Quem faz sentido, o que faz sentido nessa rotação? Com quem conversar? O elevador por andar me escuta. De concreto, poucas ruas vaguei. Há uma longa jornada. Depois te conto. Antes vou consumir a tinta da ribalta.  Um bilhete amassado. Camisa passada. Um pé na estrada. Outro amassando a pedra. O vento assovia. Amigo na esquina. Não tropeça no pé, meio-fio! Não faz notícia da queda. Eu só caio na estrada. Não preciso de lenço, Caetano. A garganta esgana. A cidade neblina o nobre ácido: de tão denso sobe em pó. Quem labuta nas cinzas, bem sabe: tudo que emana é calada manhã. Calma, soldado. Quem ousa das vielas gritar?  Sim, o silêncio é arte, Susan Sontag. O troco da fibra, se raspa e resmunga, é veia partida; invade e vaga a voz do porão. Um pé na estrada. Não posso parar. Se penso é tarde. Quando chega a tarde roda mesmice no filme das horas.  Rugas e olhos virados miram a noite do dia. Por que chamam de tarde o que está por nascer? Desde pequeno acreditei, o pescador recolhia na rede e guardava o tempo que sobrava no mar. Desaparecia nas luzes: coragem e luar. Hoje sobra no bolso o metal que me cobra o custo da vida. Quando acordo, é estranho, sou espelho de um tempo a velas. Ninguém apagou. Não há personagem que fale por si. Havia soldados de verde. Desses não quero lembrar. Quanto vale a saudade de um pai, um ideal que se foi? O futuro ficou. Ao olhar o presente rasgo rito e um terno; só não tenho o direito de fazer a leitura como se fosse a esperança  um excêntrico inverno. Amargo e chumbo. Parto a memória, laço e novelo. Mas não vira herói quem tortura sementes. Enquanto turvo a vidraça, passa uma geração. Se penso que é tarde, não posso parar. Se me debruço na chuva, outros são girassóis. O cio da navalha afia a vertente, apura e gira o fio das ideias.  Escuta a via, rapaz. Abre o verbo e vem ver o corte da ordem. Deixa eu dormir acordado. O dia é longo, e fala por si.

Elmo Wyse Rodrigues



sexta-feira, 5 de outubro de 2018

CORSÁRIOS ACÚSTICOS DESEMBARCAM EM SÃO PAULO


Corsários Acústicos chegam nesta capital para lançar  o livro de poesias e prosas poéticas, NOTURNO VERBAL, do autor Elmo Wyse Rodrigues - poeta do extremo sul do país. O projeto encantador chega em pocket show e no formato acústico, pois a dupla integra uma banda de blues, rocks & baladas.  Formação: Cristiano de Oliveira: voz & violão; Elmo Wyse Rodrigues: voz & harmônica. NOTURNO teve excelente repercussão em cidades gaúchas, como Porto Alegre, Rio Grande, Pelotas. E também une poesia e música, dentro de uma coletânea do poeta existencialista Elmo, que já publicou FUGA Nº3, com edição esgotada. Cristiano & Elmo são fundadores dos CORSÁRIOS DO PARQUE, banda que existe desde os anos 1990, com dois CDs e shows importantes em teatros e espaços culturais no Rio Grande do Sul, como o Araújo Vianna e o Teatro de Câmara. E vão levar esse projeto para o Rio, Curitiba, Florianópolis e Fortaleza.  A produção é da paulistana Isis Vargas.

#corsáriosacústicosnaestrada

segunda-feira, 1 de outubro de 2018



                  QUARTO 518 E UM SOL DE BANHEIRA PARA AQUECER A LUCIDEZ


Perto de perder o sonho, ganhei olhar pela janela. Quarto 518,  mais um número desconhecido. Pássaros e ônibus já disputavam os primeiros ecos difusos do alvorecer. Caminhei até o arroz integral, com sal do Himalaia. Espero ter protegido a receita budista no refrigerador. Quatro horas. Oh, inferno estas batidas do soturno relógio; berram na parede.  Estranho por estranho, coloco um Frank Zappa na vitrola, baixinho. Repousa pouco a bela vizinha, faz residência médica. Resolvi ficar na cozinha. Por aqui envio-lhes esta inútil carta insone. Na mesa de refeições, o segundo livro semanal dos republicanos espanhóis. Franco, cai fora. Estou a poucos metros da pequena varanda. Ademais, cercado de automóveis, vidraças & aviões. Estou só. A poucos centímetros desta angústia perene. Ela  me queima em turbilhão. Mas disseram que amanhã não verei nuvens, e sim um sol de banheira aquecendo a lucidez. Sussurram luzes na sacada alheia. É permitido voar, em calmaria. Me tranco em suspiros, supondo dormir.

                      Outubro de 2018

                         E.W.R.