sexta-feira, 29 de maio de 2015

                  
             "E de nós, não sei.
             Vamos sós, eu sei."
    (Guilherme Lamounier / Tibério Gaspar) 
  


                

           Não quero viver
           Uma relação como se fôssemos
           Cumprimento formal. 
           Não posso
           Desconstruir a nossa emoção,
           Nem partir
           Em dois a solidão...
           E por ser só
           Só assim eu sei ficar contigo.

                  E.W.R.
          Foto: Jeana Rodrigues.

domingo, 24 de maio de 2015

VANGUARDA

Como dói a vanguarda
quando nos vemos
frente a frente
com a boca negra da guarda.

1976

Este breve poema abre o livro Fuga nº3. Eu tinha 18 anos e era apenas um militante estudantil.

sábado, 16 de maio de 2015



            PALAVRAS

            Sim, eu pretendo  escrever,
            Porque não vejo notícias.
            Anoiteço na cor das telas.
            A barra do dia me fez voltar
            E se lanho a voz
            E se há nuvens nos olhos
            Algo vem e me diz: sabes te decifrar.
            Mas precisa? Convenhamos, sou mero
            Escrevinhador, perdido e urbano.
            Sem ter a intenção de guardar as palavras,
            Ou ser comedido num carcomido baú.
            Não uso vocábulos: talhei as escadas,
            Quebrei o terraço só pra compartilhar.
            O poeta não se exime.
            Tédio, prazer e melancolia.
            Quem transita em verbetes,
            Quem visita ilusões
            Mostra pura coragem.
            Confesso – o vernáculo me assusta!
            O quadro limado na parede 
            Será fato ou liturgia?
            A vida é um assunto, nos faz sorrir.
            Querem saber?
            Não acredito em ofícios.      
            Da obra nem sobra o autor.
            Ainda uma vez vou embora
            Para dentro da lua.
           

                        E.W.R.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

NOTURNO VERBAL


Não pretendo escrever.
Serei ofício?
Ainda nem mesmo decifrei...

As palavras guardei
Anoiteceram no baú.

No caracol da escada
As lembranças voaram
Quando na rede dormiu
O equilibrista.

No drama da vida
Não sou o ator
Sequer a obra.

Me vejo no quadro
Que recusa a parede
E salta pro fato
Em preto e branco.

A linguagem
O meu corpo traduz
E não se exime de compartilhar...



Esta poesia foi feita quase ao mesmo tempo em que o Cristiano de Oliveira fez a música. Posteriormente, foi gravada no segundo CD dos Corsários do Parque.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

terça-feira, 5 de maio de 2015

ESCREVER E FALAR

Olha, tenho comigo que essa coisa de escrever pode ser bem parecida com o ato de falar. Eu, quando tive acesso à Gramática,
mergulhei. Talvez até porque  o meu pai fosse um grande matemático.
Lia muito a escrita semântica, sintetizada por grandes professores. A ponto de decorar tudo que dizia respeito às normas do Português. Mas hoje com essa reforma, que os próprios portugueses são reticentes, misturei tudo. Eu, um revisor amador e modesto. Mas devo dizer: escrevo não obstante a forma; escrevo porque sinto, porque sou sujeito antes de ser objeto. Atrevo-me a perguntar: alguém terá coragem de reformar o que Machado de Assis, um autodidata, escreveu na sua preciosa visão?
Escrevo como você descreve. Mais importante é a riqueza do cotidiano que abarca os sentimentos de quem sabe a grandeza
de estar vivo e nunca a sós. Não sou professor de estética. Jamais vou sonegar o pouco que aprendi. Jamais vou inibir quem nos textos quer ser pessoa e essência. Ao contrário, uma palavra  ou um verso podem falar bem mais que um poema aparentemente completo. Claro que por ideal e vocação ao me lançar no planeta das Letras, mesmo sendo outra a minha formação, sei dos riscos e da maledicência ( pouca, aliás). Sei bem me proteger. Para publicar
algumas anotações, basta uma certa ousadia e sempre acreditar: tudo aquilo que manifestamos é o melhor que estamos vivenciando, ainda que na hipótese e no desejo plural.

E.W.R.