sábado, 29 de junho de 2013


                                            NO LIMITE

Andava inquieto e rebelde. Descobri um sentido. Só pode ser. Mesmo sentindo um motivo primal, caminhei  e vaguei. De tanto, achei  cidade e promessa. Parava incerto, os olhos decerto no céu. Doía o peito antes de ser coração. Já sei. Não posso voar. Afastei  a incompreensão. Escrevia assim, forjando papéis. Enquanto engenheiro, calculava poemas. Durante  andaime, nascia  poeta. Pra ser arquiteto, chamei as estrelas. Não posso voar. Se voo sou louco, se pouso sou tonto. Pensei ser claro seguindo o sol.  A química das nuvens cerrava meu corpo. Procurei pelos bares. Esperei das pessoas. Esqueci de existir. Abri tantos livros... jamais saíram inteiros. Talvez a urgência. Não vejo motivo. Tanto sobrado em vão. Não sou um Rimbaud. Tão calado fiquei. Quase perco a quimera. Ficar solto em frases quando Pessoa presente de tudo falou. Sei lá, foi a inércia, a rotina suada, ou quebrava em tempo, ou explodia por dentro. Não pensem que sofro – só declaro uns dias melhores. No limite  observo. Achei um sentido. Não posso voar. A maturidade segura o sentido do termo. Se nunca fiquei, não viajem por mim. Não apontem os dedos. Não aceito ingerência. Sei bem cobrar do que sou capaz. Não cresci dessa moral. Só atira uma pedra quem da pedra saiu. No limite sou quieto, não abusem do "certo".

                                                 E.W.R.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

sexta-feira, 21 de junho de 2013


AMÉRICA







                        O que fazer deste mundo senão sangrar?


                        As pétalas o cálice cortaram...


                        Um grito tribal acorda a vertente.


                        América chora! Chegou tua hora


                        A tua mestiça história ninguém calará!


                        Outrora cortaram tua língua


                        Em vários dialetos hoje gritarás.




                        O que fazer dos Andes senão sonhar?


                        Inútil falar da fotografia nevada


                        Servida em fatias, um doce jantar


                        Índios rebeldes,  domem a Constituição.


                        América  corta galeana as veias


                        Estanca a fome, a sede dos teus ancestrais
                        


                        O que faz um homem senão caminhar?


                         Menina atiça sangrando


                        E masca serena a igualdade do pão.


                        América vibra! Teus filhos chegaram


                        Ao sol se abraçam


                        Como um livro aberto.


                        Um ventre parindo.




                        América explode!


                        Sem vingança ou ode


                        Mas vigia as armas


                        Ou vão te trair...


                                       Elmo Wyse Rodrigues


                                             

sexta-feira, 14 de junho de 2013

                                               QUINTAL FECHADO


                                               Chegando no prédio voei para dentro de casa. Todo caminho eu escolho a rota. Não abri a porta. Sou feito de grades e aço. Na sobra, pura vidraça... Respirei na sacada comedido o ar. Escuto  a lua para elaborar  um texto.  Por que quando chego não vejo o relógio? Bem-vindos à sala. Olá, sofá arranhado. Patti Smith cantando. De novo só um antigo vinil. Não ouvir telefone. Uma regra básica. Ele conspira contra o silêncio, berço esplêndido da melodia.  Uma via da regra. Nem sempre deveria ter outra voz na mesma linha. Quando quero vou falando a esmo e rindo de nós. Fora da linha. Sou bem-humorado se me deixam falar. Falar para si é aprender a ouvir. Acabei no ditado uns rascunhos por não saber recitar. Um dia gritei tão alto, quando me dei conta  estava dentro da tevê.  Já me disseram que estou na fronteira. Pouco sei da loucura; o que sei sai translúcido. Eu não entendo por que no condomínio explodem portas e quebram janelas. Por isso não tenho agenda e me ajeito em cada lugar onde morei. Eu não sou daqui. E daí? Cresci na essência. Estou fora da casa e dentro de um apartamento. A serenidade vagamente lembro de cor. E foi pelas andanças tardias.  Gosto da vida. Não me levem a mal. Saber calibrar o açúcar do sal. Ao largo da culpa, pois não inventei a imperfeição. Com licença, é tão bom existir. Vou anotar.  Nem sei como trouxe quase tudo que pensava. Os cadernos estão comigo. Mas não me sinto dentro deles.  Não sou escritor da elite. Sou de bairro operário. Construí meu caráter alhures, mesmo sem ter  benesses da vida.  Quero passar, quem quiser que me leia. Se falar em política o poder e a grana podem mudar de partido.
 Eu não faço concessão porquanto a luta me chega em  ideia. Ser livre é isto, expandir a caneta, agrade ou não.  Se consigo acesso prefiro culturas. A erudição me chateia. Não a cultura que serve de estátua e não quer mudar. Este micro-ondas um dia arrebento! Primeiro vou aquecer um pouco do bife. Querem a receita do sucesso? Pão com bife. Depois coloco no prato um blues. Vou continuar a missiva. Trinta anos depois voltei a blefar no pife e na bolinha de gude. Verdade! Só não posso olhar dois Camus pela frente. Guardarei  na gaveta, os livros e os planos. Noite fechada. Sem despedida, larguei a escrita. Boa noite, solidão.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Quarto Andar



                           QUARTO ANDAR



                   Nem centro nem ego
                   Epicentro seja defesa
                   É precisa e decide
                   Vaidade não soma
                   Autoestima constrói
                   Sobe degraus
                   É quarto o andar
                   Tempo presente futuro
                   Clareia e areja
                   A cinza abertura
                   Cai massivo o tijolo
                   A regência  verbal
                   Avisa a hora
                   Um hóspede chegou
                   O arco era  frio
                   A harmonia da chuva
                   Só recua na calha
                   Sobe a escada
                   É quarto o andar
                   A vida é incerta
                   Por isso é tudo
                   Meditar é mudar
                   Virar a esquina
                   Louca ousadia
                   Antes da roupa
                   Passar o passado
                   Abrir a cortina
                   Quando vem a mudança
                   Vem inteira e nova
                   Abrir a janela
                   Atrás o biombo
                   Do que sobrou da rotina
                   Adiante a vitrine
                   Terracota por dentro
                   Um jardim afora
                   No  terraço um pêssego
                   A moça comeu




                   E.W.R.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

O que chamam de tarde...


O QUE CHAMAM DE TARDE...


O sol explodia o rosto. Acordei ao sul, extremo sul. Sem norte nem devaneios. Tomei o café costumeiro. Pão dormente mastigo. Alguém dormiu? Não eu. Nada de mais, nada de mal. A vizinha de novo bateu a janela. Bem na minha cara. Sol no rosto, vizinha na cara, desejo na pele. Mas hoje é dia. Mais um dia. De madrugada, semana passada, ouvi alguém uivar: os dias são todos iguais!... Eu ando achando, tola vidinha eu ando achando. Apressado e  cansado, sem ruptura nas ruas. É só ritual. Nada de menos. O todo do dia, neste quarto de hotel, anotei num diário, uma fração a mais.  Bairro a bairro, eu penso no mundo e quem pode mudá-lo - talvez de lugar. Ou da minha sala. Quem faz sentido, o que faz sentido nessa rotação? Com quem conversar? O elevador por andar me escuta. De concreto, poucas ruas vaguei. Há uma longa jornada. Depois te conto. Antes vou consumir a tinta da ribalta.  Um bilhete amassado. Camisa passada. Um pé na estrada. Outro amassando a pedra. O vento assovia. Amigo na esquina. Não tropeça no pé, meio-fio! Não faz notícia da queda. Eu só caio na estrada. Não preciso de lenço, Caetano. A garganta esgana. A cidade neblina o nobre ácido: de tão denso sobe em pó. Quem labuta nas cinzas, bem sabe: tudo que emana é calada manhã. Calma, soldado. Quem ousa das vielas gritar?  Sim, o silêncio é arte, Susan Sontag. O troco da fibra, se raspa e resmunga, é veia partida; invade e vaga a voz do porão. Um pé na estrada. Não posso parar. Se penso é tarde. Quando chega a tarde roda mesmice no filme das horas.  Rugas e olhos virados miram a noite do dia. Por que chamam de tarde o que está por nascer? Desde pequeno acreditei, o pescador recolhia na rede e guardava o tempo que sobrava no mar. Desaparecia nas luzes: coragem e luar. Hoje sobra no bolso o metal que me cobra o custo da vida. Quando acordo, é estranho, sou espelho de um tempo a velas. Ninguém apagou. Não há personagem que fale por si. Havia soldados de verde. Desses não quero lembrar. Quanto vale a saudade de um pai, um ideal que se foi? O futuro ficou. Ao olhar o presente rasgo rito e um terno; só não tenho o direito de fazer a leitura como se fosse a esperança  um excêntrico ato. Amargo e chumbo. Parto a memória, laço e novelo. Mas não vira herói quem tortura sementes. Enquanto turvo a vidraça, passa uma geração. Se penso que é tarde, não posso parar. Se me debruço na chuva, outros são girassóis. O cio da navalha afia a vertente, apura e gira o fio das ideias.  Escuta a via, rapaz. Abre o verbo e vem ver o corte da ordem. Deixa eu dormir acordado. O dia é longo, e fala por si.







ASSIM GRITA A HUMANIDADE   SEGUNDO UM MUDO POETA  




O grito poético de Rimbaud /


O grito selvagem de Jack London /


O grito andaluz de Garcia Lorca /


O grito primal de John Lennon /


O grito andarilho de Walt Whitman /


O grito rebelde de James Dean /


O grito existencialista de Sartre /


O grito folk de Bob Dylan /


O grito incendiário de Joana D’Arc /


O grito teatral   de Shakespeare /


O grito calabar do Chico Buarque /


O grito vermelho da Rosa Luxemburgo /


O grito guerrilheiro de Guevara /


O grito satolep de Vitor Ramil /


O grito oriental de Buda /


O grito anarquista de Bakunin /


O grito Iisérgico de Jim Morrison /


O grito convulsivo de Dostoiévski /


O grito underground de Marcuse /


O grito heterônimo de Fernando Pessoa /


O grito feroz de Maiakóvski /


O grito urbano de Renato Russo / 

O grito rural da Via Campesina/

O grito quilombo de Zumbi / 



O grito visceral da Janis Joplin /


O grito beatnik de Jack Kerouac /


O grito lírico de Cecília Meireles /


O grito debochado do Barão D’Itararé /


O grito vagabundo de Charles Chaplin /


O grito liverpool dos Beatles /


O grito evolucionista de Darwin /


O grito comunista de Marx /


O grito inconsciente de Freud 


  


ELMO WYSE RODRIGUES