domingo, 29 de novembro de 2015

Olho, paro e escuto.
Percorro um caminho
que apita das rodas.

Um coração
na rota do trem
descalça os trilhos
que pairam no horizonte.  

Quando doer
o sol na manhã do cerro
verte da terra a esperança
o choro do bandoneón.

Violeta Valdana



Violeta Valdana - essa poeta que nasceu no Uruguai e que vive na fronteira do extremo sul do Brasil - aceitou gentilmente colaborar com o blog OLHAR POÉTICO.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

NOTURNO




O silêncio

que ouvimos
na noite bordada
veio me falar:

Eu sou um caderno

que guarda, beija e afaga
os teus sentimentos, 
para nos manter longe
das tempestades mundanas.

Por isso faço anotações

nas madrugadas,
como convém a um poeta.

E.W.R.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

"A dor, a perda e a decepção são partes inerentes à existência. E viver bem é saber conviver com essa realidade, sabendo que somente podemos contar é com nossa ação, nossas escolhas e nosso projeto-de-ser."
M.R.

M.R. estudou Filosofia e Psicologia. É colaborador do Blog Olhar Poético.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

                                      PEDRAS ROLANDO



Eu sempre guardei um pedaço da adolescência. Uma parte é embarque. Por dentro geada. Nos anos 1960, porque filho de comunista tinha de passar fome, lembro de comer algum peixe com farinha mexida. O pão eu dava pras tartarugas. Mas havia sonhos. Compensavam a tarde. A utopia era filha das pedras e da lagoa. Tudo visto do meu quintal. O horizonte fluía feito subterfúgio e porta. Não tem como falar de um tempo AGORA. Tem como sentir infinitivo clamor. Aqui sou leitor do livro das noites. A metade altruísta é nômade e chama. Uma vontade existencial. Bem ao certo, quem primeiro chegou: a solidão ou o rascunho do caderno? Eu mesmo, professora. Desde então folhas e folhas mudaram em busca de um inútil diário. Foi só quando acordei que me vi numa geração. Daí entendi como podia rolar uma pedra. O que crescia era humano por algumas horas. De tanto conter. Deve ser porque é a vez de alguém perguntar. Qual gênero descrevo? Aos dezesseis sempre soube. Aos dezoito declamava contos. Embora tédio, seguia leve na narrativa do poema. Tinha dezenove. Aos vinte fui breve. Cedo ou não, acomodei no fundo da mala a carta de despedida. Parecia tão longe a nova metrópole. Abandonei a estrada enquanto trocava sem saber de casa. Acabei parando entre o cinza, um quarto e o neon.  Longa a madrugada, não permitia a bonança. Uma década de letargia: eis o que chamavam de uma nova consciência. Até as esquinas nos proibiam. Comecei a regar a gota que vivia escondida na íris da alma. Urbanamente o concreto guarda, não seca; aguarda em gelo o despojo. Se chegar a idade, vou decompor a jornada. E não poupo advérbios. Um bom sujeito aos vinte e poucos. Tenho tanta saudade. Não sofro mais, perdi a conta. Saberei ser livre e calmo. Faz tempo saí ileso dos versos para anônimo dar murros na frente do guarda-voz. Preciso novamente adolescer. Quantas vezes mentia, tantas vezes dizia sequer resenhar a greta das ruas. O que ora apresento, com a devida permissão, é o estrondo da buzina. Não devo calar se escuto murmúrios invadindo cidades, se na batida do óbvio o carro atropela sensíveis sinais. Antes que berrem: olha a bolsa e o capital, olha  o bolso na capital - escrevo para preservar o lítio da lucidez. Lento e zen falo de cidadania. Um caminhante asumindo passagem. Esmaguem a cólera. Alguém precisa falar. Há sombras e vozes na retina da multidão. E uma umidade brava no ar...

                    Porto Alegre, madrugada de fevereiro de 2011

                                               E.W.R.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Blog do Luiz Domingues: Hair, Deixe a Luz do Sol Brilhar - Por Luiz Domin...

Quem lembra de Hair?
( Uma matéria  importante sobre a peça teatral e  o filme Hair do +Luiz Domingues )


Blog do Luiz Domingues: Hair, Deixe a Luz do Sol Brilhar - Por Luiz Domin...: Quando a Lua estiver na sétima casa e Júpiter alinhar-se com Marte...   Essa conjunção astrológica é o estopim para a entrada da ...

terça-feira, 3 de novembro de 2015

ENCONTRO DE CRISTAIS


Vamos acalentar a delicadeza
pela intensidade, suspiro e susto.
É nosso o sentimento.

Lábios se calam
pele a pele, puro delírio.
Vamos amar sem aviso.

Mistério, desejo, entrega.
É assim o nosso amor:
uma magia a nos decifrar.

Uma fruta madura
podemos acolher encanto.
Um gosto de amora.

Vamos respirar a sutileza,
una é a sensação.
Sem limite ou presságio.

Porque o delinear belo
dos teus olhos
é um encontro de cristais.

E.W.R.

domingo, 1 de novembro de 2015

ARGELINO

Tens uma história  triste e anônima, homem black do jazz.
Chegaste feito um busto que rola como as rugas das mãos. Vieste por outros braços, de forma casual e simbólica. O teu lugar é infinito lugar. Eu fiz este pacto contigo -  tentar descrever como te sentes. Não precisamos combinar:  ainda carregas  um heróico blue. Por isto pensei nesta modesta elegia.
Cantavas para a burguesia francesa. Eras chamado até de Charlie Parker. Mas te davam um mísero cachê. Te queriam no fraque moderno empestado. Usavam-te em festas e bares. A noite inteira. Por um prato de comida e alguns trocados para o café do amanhã. Batiam  a tua porta, logo após o show terminar particular. Gostavam da música, não da tua gente sofrida. Tinham orgulho da guerra. Estraçalharam tua pátria. Arrogantes, achavam que eras um troféu colonizado.
Nunca perguntavam como estava realmente, por dentro, na alma, o argelino dos guetos de Paris. A tua  família inexistia. Era apenas mais um viúvo das sobras de guerra. No entanto, as mãos africanas que te  moldaram são as mesmas do berço da sabedoria
universal. Liberdade, igualdade, fraternidade. Sim, sabemos bem  dessa farsa. Descansa em paz, argelino.

E.W.R.