MEMÓRIAS COMO SER CONTEMPORÂNEO
Eu não preciso mais entender o mundo. O destino acabou de adentrar. Ao passar da antessala, ele foi bem bacana. Discorremos sobre amenidades, como o tempo, os amores, a vida e os planos. Relatou-me que eu ia ser livre e amar sempre uma mesma mulher; que eu não teria jeito de acumular capital. Pois possuo a estranha mania de lançar os anéis ao mar. Salvo o vinho. O acaso que me perdoe. Mais tarde, encontrei a Elis na cafeteria, e ela me falou dos seus projetos de amar minuciosamente sempre um mesmo homem.
Eu não
preciso mais brigar pela paz. Sutil, o peito se abriu, a inconstância se
foi. Escuto do coração os acordes de estar na contemporaneidade. É a
calmaria de sorver o verde do mate, com a temperança do pampa e seus
ancestrais.
Quando
muito, o que deixei de fazer não me oprime. Por muito menos, apimentei a
ampulheta para encarar a andança, a modesta participação. Eu tenho
inveja da inveja dos meus inimigos, invisíveis ou não. Pertenço à
aldeia, uso somente o quinhão que me compete na imensidão do universo.
Quanto ao mundo per se,
precisa girar, atirar para longe o flagelo, a incompreensão. A fome
sobeja feito uma guerra civil, na falta do consenso ao redor de um elo
que, de tão perdido, ainda não encontrou a escancarada sabedoria.
Eu
preciso mudar. Talvez conjugar os limites daquilo que me julgo capaz.
Rebelde e fraterno, não descarto o pretexto de me inserir. Ou de me
insurgir.
E.W.R.