quarta-feira, 28 de março de 2018


                                                           MAGRO
                                        (Nelson Coelho de Castro)

                                Uma dor aqui no peito, magro
                                E uma vontade de cair - né, magro?
                                Por qualquer caminho desses
                                Por qualquer desses caminhos...

                                


                                   
                         SANGRAR ESSES CAMINHOS
                               (Elmo Wyse Rodrigues)                                 
                                  


                                 Por quanto tempo
                                 Sangrar desses caminhos
                                 Marcas do dissabor.

                                 Tivéssemos superado...
                                 Não tem jeito, magro
                                 Melhorar do quê?
                                 Cansei da esgrima
                                 Covardia alheia grassa.

                                 Há uma vontade –, 
                                 Me perder pelos caminhos...

                                 
                                 O desterro quer partir
                                 A memória quer ficar
                                 Desaprendi a saída.

                                 Prossegue, novelo vivo
                                 Vem estender a fibra.
                                 Toma partido e volta.
                                    
                                 Porque se temperança foi
                                 Foi na mudança de estações.


Nelson Coelho de Castro, Fernando Ribeiro, Raul Ellwanger, entre outros cantores e compositores gaúchos (  no Brasil foram milhares de artistas. O maior expoente, sem dúvida é o Chico Buarque) lutaram muito para que voltássemos a ser uma democracia. Eram tempos bem complicados.  Regime militar. Não havia liberdade de expressão. Gosto muito desta música dele. Faço uma leitura de "Magro" - gíria típica dos anos 1970 - no sentido de que chega um momento onde a gente cansa. Mas são momentos. E ele expressa muito bem a angústia da época, todos querendo eleições diretas para presidente. Mas ele ficou, sim. E continuou a divulgar o seu trabalho importante. Bem, por esses caras vou ter sempre muita admiração e respeito.


                                               .



sexta-feira, 23 de março de 2018

 A NUDEZ HUMANA

Eis talvez porquanto
O distrato social 
Acuados no saguão
Porta argamassa degrau
Esquecemos junção
Acabamos extremos
A volúpia insana
Metralhadora diária
Jovem decano por vez
Sombra sobras assombro
Do terceiro mundo
Geramos o submundo
Criaturas na sarjeta
Espreitam as réstias
Aparecemos filme retrô
Poltronas em couro
Cenário lá fora
Resto gasto lastro 
Caninos afiam
A nudez humana
Bestas que somos
Carniça e desdém
Ossos esquentam
Registram os trâmites
As valas comuns

E.W.R.

sexta-feira, 9 de março de 2018

SÓ UM POUQUINHO, QUERIDA
                          

Ela — Temos compromisso, meu bem. 
Ele — Bem antes te avisei, querida.

Ela —Tomaste iogurte, meu bem?
Ele —  Só um pouquinho, querida.


Ele — A cerveja não está gelada?

Ela — Hã?

Ela — A mesma música faz tempo, mudo?

Ele — Claro, querida.

Ela — Não acho o meu batom preferido?

Ele — Hum? 

Ele — Onde foi parar a minha agenda?

Ela — Já procuraste?

Ela — Recitando pro espelho, meu bem?

Ele — Ensaiando, querida.

Ele — Quem vai lavar a louça hoje?

Ela — Tua vez, meu bem.

Ela — Fiquei bem nesta roupa?

Ele — Linda, querida.

Ela — Hoje não ouvi teu celular tocar

Ele — Sabes onde ele foi parar?

Ele — E as minhas chaves?
Ela — No mesmo lugar.


Ela — Estás cuidando a panqueca no forno?
Ele — Panqueca?



Ela —Viste meu anel por aí?

Ele — Só um pouquinho, querida.

Ela —Precisas ir bonitinho assim?

Ele —Calma, querida.

Ele — Ué, este baú não estava no quarto?

Ela —Sim,  troquei semana retrasada.


Ela — Afinal, aonde vamos?
Ele — Não sei, querida.

       
Jaque / Elmo
       
    SÓ UM POUQUINHO, QUERIDA
                          

Ela — Temos compromisso, meu bem. 
Ele — Bem antes te avisei, querida.

Ela —Tomaste iogurte, meu bem?
Ele —  Só um pouquinho, querida.


Ele — A cerveja não está gelada?

Ela — Hã?

Ela — A mesma música faz tempo, mudo?

Ele — Claro, querida.

Ela — Não acho o meu batom preferido?

Ele — Hum? 

Ele — Onde foi parar a minha agenda?

Ela — Já procuraste?

Ela — Recitando pro espelho, meu bem?

Ele — Ensaiando, querida.

Ele — Quem vai lavar a louça hoje?

Ela — Tua vez, meu bem.

Ela — Fiquei bem nesta roupa?

Ele — Linda, querida.

Ela — Hoje não ouvi teu celular tocar

Ele — Sabes onde ele foi parar?

Ele — E as minhas chaves?
Ela — No mesmo lugar.


Ela — Estás cuidando a panqueca no forno?
Ele — Panqueca?


Ela —Viste meu anel por aí?

Ele — Só um pouquinho, querida.

Ela —Precisas ir bonitinho assim?

Ele —Calma, querida.

Ele — Ué, este baú não estava no quarto?

Ela —Sim,  troquei semana retrasada.


Ela — Afinal, aonde vamos?
Ele — Não sei, querida.

        Jaque / Elmo
       

sábado, 3 de março de 2018

  PRELÚDIO PARA UM ENSAIO SE AINDA NÃO VIROU CANÇÃO                


FICO no processo de reflexão. Vagos, importantes momentos,  desconsideramos a vida  feita de escolhas. Talvez o mais razoável seja estancarmos, como se toda trajetória fosse mera questão de destino. Ah, descaminho.  Em outras palavras: ninguém deve se mover, tomar decisões. Parece estarmos reclusos, parece tardança adormecida. Logo,  para quem tem sangue azul e iluminado, o destino já nasce  apropriado, designado. Não é bem assim. O importante  por entre o dia passante, meditar um estado. Andança. As pessoas precisamos vivenciar movimento, feitos e criação. O esperado de nós
permanecer assistência.  Uma armadilha social. Cuidado. Na verdade, Crescemos agentes sob pele. Essência real: flutua e é consciência. Precisa acontecer. Sem ter aqui  a capacidade de minimizar sofrimentos. Respeito-os muito. Desconheço  discurso politicamente correto. A praticidade fala por si. Tão bonito ver gente recriar o seu  dia a dia, seus registros e impressões. Transitei por  teorias, da mais-valia até a terceira visão; desviando, pois, da ostentação.  Não me aproprio considerando  experiências alheias; falo da autenticidade. Ser humano, e não  ser objeto petrificado. Rajneesh colige,  conteúdo brilhante, o universo interior. Dentro das veias, nossas as mãos. Por outro lado, descreio do individualismo. Exponho a minha opinião com  relação a questões internas, pessoais, fatores emocionais. O âmbito político necessariamente torna-se coletivo. Feito de escolhas... 


                      Elmo Wyse Rodrigues