terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

              ENQUANTO O MEU AMOR NÃO VEM




Eu mastigo a sombra do relógio
Enquanto tuas curvas não  vêm
Arremesso a insônia na parede
Bebo o vinho que te prometi
Por não poder sorver-te agora.


E.W.R.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015


O campesino lavra a terra como quem lavra o poema.
Ao pulsar ofegante da semente vislumbra o sol
                                                     [escamoteando-se]
Detrás do outeiro, a perscrutar os altivos desígnios;
A igrejinha no alto do promontório - que não se entrega
                                                                 [à enseada].
Mas é tal o estio, impassível à aguaceira, qual a indolência
Na profusa colheita. Já o poeta sucumbe exultante ao
                                                            [fado do engenho],
Enfada-se com os seios agrestes da camponesa
                                                 [encobrindo o luar].
No entanto, ao verem a flor aprisionada, ombro a ombro,
                                                            [sob o sol candente]
Rasgam a terra e desvelam a existência. Ambos subjugam
                                                                     [a resistência].
E da resilência do mundo, quando o solo já infecundo,
Eis que vertem doces versos na dispersão da vida.

                                Rio Grande
                            +Leonardo Rodrigues Gaubert 

Leonardo é poeta, advogado, compositor e também integrante da banda Corsários do Parque. No prelo, o seu livro de estreia na poesia.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

                    
                               olho muito tempo o corpo de um poema
                                até perder de vista o que não seja corpo
                                e sentir separado dentre os dentes
                                um filete de sangue
                                nas gengivas

                                            ana cristina cesar
                               

domingo, 8 de fevereiro de 2015

             PASSO


Estou de novo na estrada,
Vento Estrangeiro
Acendo outro cigarro
Com o meu próprio nome.


Confesso não ser triste
Todo mês desconto as horas
Desalinhadas do firmamento.


O cerro e o mar
Delimitam meu horizonte
Encontrar outro inverno
Este não mais me aprisiona.


Estou aqui, temporada
Recém transpassei o inferno
Disseram que são os outros.


Não procuro respostas
Eu não me basto
Espero o disparo das seis.


E.W.R.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

OLHO DE LINCE


quem fala que sou esquisito hermético
é porque não dou sopa estou sempre elétrico
nada que se aproxima nada me é estranho
                                        fulano sicrano beltrano
seja pedra seja planta seja bicho seja humano
quando quero saber o que ocorre à minha volta
ligo a tomada abro a janela escancaro a porta
experimento invento tudo nunca jamais me iludo
quero crer no que vem por aí beco escuro
me iludo passado presente futuro
                                        urro arre i urro
viro balanço reviro na palma da mão o dado
                                        futuro presente passado
tudo sentir total é chave de ouro do meu jogo
é fósforo que acende o fogo de minha mais alta razão
e na sequência de diferentes naipes
                                        quem fala de mim tem paixão


                                 WALY SALOMÃO