quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

DENTRO DE UM TEXTO FEBRIL



Dedico o meu tempo a ti.

Vibra sentido, é pele...

Giramos futuro

Tão bom o presente...

Foi bonito ouvir

Dos teus lábios ardentes
Dos teus olhos febris
Entre o fogo e o desejo
Um te amo tão norte...

Pulsava a palavra

Além dos  limites
Extasiado fiquei.

Não uso retórica: eu me entrego
É  inconsequente amar...

Amor quando cresce, desfaz

Descompassa a memória
Das razões a paixão.

É consequente amar?

É verbal a paixão?
Por que explicar?

Combinamos descomplicar

Se me fazes feliz
Se te sinto feliz
Ponto.

O sabiá-laranjeira nos acorda

Cantando e olhando -
Lá fora é só lua!

É tão nossa a presença

É tão nosso o abraço
E quão forte o querer.

Consequência ou razão?

Um te amo tão forte.

Elmo Wyse Rodrigues


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

MENINA TRISTE


O que tens,
Menina de olhos tristes?
Por vezes
Pareces tão próxima, tão meiga
Por vezes
A imensidão do horizonte
É a tua morada.

O que tens,
Menina de olhos tristes?
Deixa eu beber a tua melancolia
Deixa eu molhar a tua boca
Quem sabe assim...

O que tens,
Menina de olhos tristes?
Eu só quero te afagar
Nada mais prometer
Jamais desencontrar.

Foram densas nuvens
Um prematuro temporal
É recomeçar a namorar
Podes derramar a tua retina
Enquanto entoamos as mãos.

O que tens, 
Menina triste?
Mais vontade eu tenho
De te amar...

 E.W.R.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014










OI



Para você,
que não fotografa
o rosto,
por timidez ou pejo.

Para você,

misteriosamente
véu, glamour, espanto.
 

Para você,
minha amiga distante,
querida internauta,
eu fiz este singelo poema,
só para te dar um "oi".

  E.W.R.

 














domingo, 30 de novembro de 2014

O VERNIZ DA MODERNIDADE


Abraço o amanhã
por entre becos, ravinas,
arlequins.
Cortei os pulsos da modernidade.
Não serei subterfúgio
ou escarro da posteridade.
Não serei combustível
de impostores, profetas ensandecidos.

Abraço o amanhã
nos grafites, jornais,
folhetins.
Degustei a agonia desta geração.
O anonimato me espera.
A inquietude me redime.
Crepúsculos não haverão. Antes marulhar,
depois fenecer.

Abraço o amanhã
pelas janelas, telhados,
jardins.
Preparei um ofício rameiro.
O verniz da mediocracia
não me seduzirá.

Abraço o amanhã
em manifestos, assembleias,
boletins.
Não serei crepúsculo da posteridade.
Degustei os becos da modernidade.
O anonimato me engessa.
A inquietude me espera.

E.W.R.

Este poema foi publicado no livro Fuga nº3.

domingo, 23 de novembro de 2014

ELEGIA AO INOCENTE SÍRIO


Desventurado arcanjo que tão cedo na vida
Vergastou-lhe as pálpebras a umidade da terra
                                                            [indócil].
Tombaste enquanto os lumes entrecruzavam
Os céus de Damasco  arrebatando tuas quimeras
                                                          [infantes].
Descorados pela frialdade neurotóxica do instante
Teus lábios aturdiram o horizonte. Já não és,
Enquanto a carne putrescente colore o éter  que ascende.
Homens vis que, entre a amônia e a trincheira,
Não compreendem que, ante a existência, todas
As ideias são funestos vazios.

                      Leonardo Rodrigues Gaubert


+ Leonardo Rodrigues Gaubert é poeta, advogado, compositor e integrante da banda Corsários do Parque.

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

DIÁRIO DA MADRUGADA
(Ou de como virar um insone metropolitano.)

 
Dorme, Porto Alegre
Não consigo dormir
Ousei sem destino sair
Por toda a noite era silêncio
O silêncio de um passeio público
Madrugava um lirado neon.

Dorme, Porto Alegre
Não consigo dormir
Me confundo na tua veia
Na escuridão irradias
O que penso encontrar
É tanto despertar...!

De alegria ou melancolia
Adormecerás, por certo
Mas como acordar...Como?
Sem as notícias da madrugada
Sem as teclas dos internautas
Sem os acordes dos violonistas
Sem o espanto dos poetas
Sem o gemido dos amantes?

E.W.R.

terça-feira, 18 de novembro de 2014

O MELHOR FEITO POR NÓS

COMO QUEM DESAPRENDE


Sem tolerância ou benevolência
não geramos uma criatura.
Carimbamos a troca
como quem desaprende.
Sociedade calada, no apito, no grito
corre um risco e lesa,
fechando-se em castas,
excluindo homens de rua, mendigos ou não; 
 isolando homens prementes. Casas olhando ninguém.
Um grupo aclamado será social
quando medra viventes
 e jamais se apropria de gente, nem ocupa um espaço, 
- não é o seu carnaval.
Igualdade e temperança:
 deverá ser narrado um livro
de velhos e novos caminhos,
sem farsantes telhados da hipocrisia,
sem objetos  explodindo no ar;
um verdadeiro semblante, é humano,
 - o melhor feito por nós.

Elmo Wyse Rodrigues

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

CANÇÃO PARA NÃO SOFRER


Não esperem de mim a salvação.
Luto até hoje contra a ferrugem dos dias.

E.W.R.


segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O GOSTO AMARGO DE SEGUNDA-FEIRA
AS NOITES CALMAS
OS DIAS LEVES
MANHÃS BRANCAS
TARDES SUAVES
SEM O BRILHO
DA TUA PRESENÇA
MINHA ALMA FAZ GREVE,
GREVE SIM
O CANTO GRAVE DOS PÁSSAROS
SUAVE E LEVE
COMO O MEU SONHO DE ÍCARO
TRAZ O PERFUME DA TUA PELE
NO TIC-TAC DAS HORAS BREVES
O TEMPO PASSA
NAS RODAS DOS CARROS
NA FUMAÇA DAS FÁBRICAS
E CIGARROS
NO OLHAR DO VELHO NA PRAÇA
ENTRE LEMBRANÇAS
E PIGARROS
NA FÁBULA DA FORMIGA
E DA CIGARRA
TUA MÃO AMIGA
QUE AGARRA A ESPERANÇA
E AO TEMPO NÃO DÁ TRÉGUAS
A DISTÂNCIA DESSAS LÉGUAS
ACELERA A SAUDADE
DO PENSAMENTO QUE NAVEGA
NÃO VEJO O SOL DA PRIMAVERA
NÃO VEJO O BRILHO
DO FAROL DA COSTEIRA
SÓ ME RESTA ESTE OLHAR
MORTO DE SOLIDÃO
E NO PEITO O GOSTO
AMARGO DE SEGUNDA-FEIRA
E NO LENÇO O GOSTO
AMARGO DE SEGUNDA-FEIRA

Antonio Carlos de Oliveira: poeta, escritor, ativista político, um dos fundadores da banda Corsários do Parque.
Exatamente numa segunda-feira de 2012 viria a falecer o Carlinhos. Hoje completaria 57 anos, como bem lembrou a +Lilia Wyse.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

O TEU POEMA

Tentei achar algum poema...
eu me perdi.
Posso ser o teu poema?

Elmo Wyse Rodrigues

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

CONTEXTURA Y CARINHO

CONTEXTURA & CARINHO


De que pele é feita
a bela morena
que não posso tocar?

Qual o beijo perfeito
que permite pulsar
a sua emoção?

Com que cor veste
os olhos
a bela morena,
que desnuda meu peito,
inerte de amor?

O que posso cantar, 
qual o som da palavra
que abre a frequência
da sua atenção?

Como é feita a essência
daquela morena,
que seduz meus sentidos,
perfuma e explica
a minha atração?

E.W.R.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

SCLERANTHUS

O que pode e parece
Ser correto, até na indecisão
Sempre lá vou estar
Incerto por vezes, na contradição
Faz bem buscar gente precisa 

Pablo Martin

sábado, 13 de setembro de 2014

OBJETO LITERÁRIO


Dia nublado.
Nunca sei o que fazer.
Tem que acontecer,
Já dizia Sérgio Sampaio.
Não consigo lembrar
O dia exato,
Algo explodiu,
E me fez nas vitrines
Expor as mazelas
Que no baú da adolescência
Meticulosamente guardei.
Tem que acontecer,
Não importa a dor.
Duas possibilidades
Quando alguém escreve para si:
Insegurança ou timidez.
Bati de frente sensato.
Embora a literatura, tão só,
Não salve ninguém,
Muito menos o nada,
Como o Sartre esclarecia -,
Não preciso crescer em messias
Para entender
A inserção entre o universo,
A mente e o objeto. 


E.W.R.


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

DEVANEIO


Dividimos a madrugada
Como quem toca as estrelas
Conversamos, ao lado a lua
É devaneio o nosso ensaio
Um suposto sol acede
Sentamos na varanda
Como quem  brinca nas ruas
Na aurora de nossas vidas

Elmo Wyse Rodrigues - Cristina Fontes

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

SAUDADE, EXISTÊNCIA & SENTIDO


Como devo
prover essa saudade.

O teu silêncio
pode não ter sentido,
se deveras ocupa espaço
em nosso lugar...

Será que existes
dentro de nós dois?

E.W.R.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

EU TE AVISO



Qualquer sintoma

de paixão
eu te aviso.
Antes preciso
roubar-te um beijo.


Elmo Wyse Rodrigues




sábado, 9 de agosto de 2014

FUGA Nº3


QUARENTA POEMAS


Perdi quarenta poemas. Ganhei oitenta dilemas. Senhor barman, por favor, mande notícias. Não importa como. Ou quando. Estou sofrendo. Ah, o sofrimento, coisa de ocidentais, all right. Mas me devolva os papéis narrados, embrulhados em sonhos soltos. Gratifico. Vil moeda burguesa.
Perdi quatrocentos fonemas. Dramas pintados em vão. Não mais consegui recitar, escrever, datar, esmurrar e gritar. Senhor barman, entenda, junto à ideia foi a alma, com o caderno a sobrevivência, entre os relatos a verve.
Não perdi o casaco de mandarim,  o diploma de bacharel, a autoridade de executivo.
Perdi quarenta temas. Mas, enfim, ganhei, confesso, três pontes: tristeza, angústia e safena.


E.W.R.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

TEMPORADA

No inverno hiberno
Na primavera amanheço
No verão esclareço
No outono deserto

Elmo Wyse Rodrigues

terça-feira, 29 de julho de 2014

O NADA PODE SER...!
De hoje em diante nada e para ninguém direi para sempre. Nem para o nunca mais direi para sempre. O para sempre não é para sempre. Para sempre é um momento que eternizo... Sem continuidade. Para sempre prometo não mais para sempre. Substituirei por o agora, só por agora serei assim... farei isso...sentirei isto...Para sempre, só por agora...! Viverei isso e assim antes que o fim se acabe...Para sempre! Não sei de onde vim e nem para onde vou. Não sei se volto de onde vim. Não sei quem sou e o que sou. O único que sei é que nada é para sempre. O nada pode ser...!
Luzia 2014/07/27

Cristina Luzia Fontes: uma poeta gaúcha que hoje está radicada em Florianópolis.
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15

domingo, 27 de julho de 2014

POEMA PRA QUANDO O DIA NASCER


Oh, lua!
Vou ao teu encontro
porque me observas gélida.

E tu, noite,
sei que conténs
perigo e risco;
logo só te desafio
onde és pura.

Madrugada:
estou contigo
não por boêmia...

Ah, solidão!
Por que não me abandonas
quando o dia cai?

Elmo Wyse Rodrigues


sexta-feira, 25 de julho de 2014

OLIVE

Sou árvore do Mediterrâneo
Cheguei floral para energizar
E adormecer a tua fadiga
Bebe em poção a serenidade
Porque a tormenta já se foi


Pablo Martin

sexta-feira, 11 de julho de 2014

  SEREMOS...


Eu te prometo
as nuvens.
Não serei mais
o mesmo;
Não serás mais
 a mesma.
Eu te prometo.


Elmo Wyse Rodrigues



sexta-feira, 4 de julho de 2014

"Ninguém canta como eu a palavra 'fome" ou a palavra 'amor'. Sem dúvida porque eu sei o que há por trás destas palavras."

Billie Holiday

sábado, 28 de junho de 2014

Deitava o mar sobre as pedras o seu pesar
Antecipando a frágil despedida na ressaca
Ardente de nossos lábios.
Sobre a terra ondeava a leniência do mundo
Ancorando conformada à presciência do amor;
Como o crepitar das ondas que derriba
O eterno sonho da espuma.
Nem mesmo tua alvura deteve o tropel da noite escura
Envolvendo em brumas o fulgor do farol distante.
Resignada, apressastes o passo, apurastes o gosto
E, sob o meu desgosto, tatearam o doce suor de tua fronte
Desdenhando o sacrifício antropofágico de tua inocência.
Na pressurosa palpitação do outono, decaímos.
Entrementes, sob o pálio estrelado da noite,
Era tempo em que todo o mar era o verde-mar de teus olhos
Na convulsão das linhas fugidias do horizonte.
Regressastes, convolando as monções
No orvalho da manhã desperta
Como a renitente lamparina que, lançada às águas,
Retorna descerrando os temores da partida.
E, ao suspiro da terra, pressagiando tua presença
Pressenti as minudências sinuosas de tua pele
Sob a nossa sombra insinuante;
Os sinais que carregas como um baluarte do destino;
As pálpebras onde, ternamente, abrigavas o bálsamo
                                                    [da espera fatigada].
Na antessala do reencontro, ambos, entreabrimos o relicário.



Poema 2

Ó, tempo inclemente, não permitas eu morra
                                                 [enquanto és].
Se não pelos verdes campos que vicejam,
No êxtase da estação, pela ária fremente
Dos amantes que arrebata a noite indolente;
Pelas paisagens que a friagem esculpe;
Pelo som gutural da onda que lamenta
O não-movimento dos arrecifes; pelo rio
Que caudalosamente passa, alheio à erosão
                                                 [da margem];
Pela arte que verseja; pelos seixos ocultistas;
Pelas folhas que balouçam pela umidade da
                                                           [terra];
Pelas paragens onde trina a morte - viúva voraz -
Ignorando o majestoso monumento que erige
O homem ao alentar a natureza morta.

               LEONARDO RODRIGUES GAUBERT


Leonardo Rodrigues Gaubert é poeta, advogado, compositor e integrante da banda de blues e rock CORSÁRIOS DO PARQUE.
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Ó, tempo inclemente, não permitas eu morra
                                                 [enquanto és].
Se não pelos verdes campos que vicejam,
No êxtase da estação, pela ária fremente
Dos amantes que arrebata a noite indolente;
Pelas paisagens que a friagem esculpe;
Pelo som gutural da onda que lamenta
O não-movimento dos arrecifes; pelo rio
Que caudalosamente passa, alheio à erosão
                                                 [da margem];
Pela arte que verseja; pelos seixos ocultistas;
Pelas folhas que balouçam pela umidade da
                                                           [terra];
Pelas paragens onde trina a morte - viúva voraz -
Ignorando o majestoso monumento que erige
O homem ao alentar a natureza morta.

               LEONARDO RODRIGUES GAUBERT



Leonardo Rodrigues Gaubert é poeta, advogado, compositor e integrante da banda de blues e rock CORSÁRIOS DO PARQUE.
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3
  TEUS OLHOS



Mostra mais teus olhos.
Eles anunciam
onde orbita teu coração.


Elmo Wyse Rodrigues

domingo, 22 de junho de 2014

SÓ JOSÉ MARTÍ EXPLICA





Ontem 
Ele sonhou
Que a revolução
Estava nas ruas.

Usando
Uma camisa guevarista,
Das milícias populares,
Gritava, a plenos pulmões:
- Pátria livre ou morte!

Acordou
Com febre,
Coberto de neoliberalismo
E tossindo modernidade.


Elmo Wyse Rodrigues
NO LIMIAR




A pressa é a calma
que me guarda
e te aguarda
na fragilidade das horas.


E.W.R.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

DA INTERPRETAÇÃO



Tento te
     interpretar
       pelas tabelas
               pelas linhas
                  pelas palavras
                         


         E.W.R.












sexta-feira, 13 de junho de 2014

MANA



É preciso, mana, dizer sim à vida.
Mesmo se esta ora é adversa,
se é objeto de nossos conflitos.
Da dor provém a agonia.
O sofrimento implica lágrimas e recolhimento.
Ao mesmo tempo nossa narrativa
comporta páginas plangentes,
sem nos danificar.
Um dia sem preâmbulos;
Um dia por inteiro irromperá a melodia.

É preciso, mana, dizer sim à vida.
Nada está desfeito.
São só folhas que caíram
de um diário desmedido.
A porção em pedras
que temos em nossas mãos
apenas noticia:
cultuamos o coração e a emoção.

Deixa, mana.
O arrivismo nunca nos interessou!
O ciclo histórico não nos é favorável,
eu sei. Tenho, contudo, uma certeza
no peito: a bonança só chega
a quem navega
e mantém o prumo na  procela.


Elmo Wyse Rodrigues

terça-feira, 10 de junho de 2014

 DA POESIA




Eu sempre gosto de falar, e faz anos, que poesia, na  minha opinião, não é autobiografia. Ela se torna interessante quando mistura realidade e criação artística, na medida certa, que, claro, depende do tipo de poema. O que escrevo geralmente tem 50% de ficção. Até para trabalhar melhor os símbolos, as justaposições. Não podemos esquecer que o alimento predileto dos poetas é a utopia. 

                       Elmo Wyse Rodrigues



domingo, 8 de junho de 2014

JÁ NEM SEI





Na lua cheia
quisera fugir da solidão.

Veste, pois,
minha camisa flanela
e vem me estremecer
com a tua flor lilás.



Já nem sei mais
quem primeiro seduz...
Besos.

E.W.R.

sábado, 7 de junho de 2014

Assim termina o livro FUGA Nº3





"A cultura não salva nada nem ninguém,
ela não justifica. Mas é um produto do
homem: ele se projeta, se reconhece nela;
só esse espelho crítico lhe oferece
a própria imagem."
                                

                                JEAN-PAUL SARTRE
                                     (As Palavras)



quinta-feira, 5 de junho de 2014

TRANSGREDIR



Não fosse
essa dor inexplicável
que transborda o peito,
o que seria do poeta?

Não fosse
essa melancolia
acometendo o coração;
a insatisfação por esse
script premeditado,
o que seria do cantor?

Não fosse
o inconformismo
rasgando as veias;
a angústia desse cotidiano
pasteurizado,
o que seria do filósofo?

Não fosse
essa jornada pária
que dá um sinal de alerta
todo dia, toda rua,
o que seria de nós?

E.W.R

Mais uma do livro FUGA Nº3  (com o acréscimo da última estrofe).

quarta-feira, 28 de maio de 2014

A LÂMINA DO TEMPO



Pelos quintais do mundo
Com as vestes de outono
Andei todo esse tempo.

Sangrei pelo flagelo
Torturas e grilhões.

Esbarrei na engrenagem
Nos ferrolhos desse país.

Ao ver tantos ciprestes
Renasci amargo e triste
Entre fardos e exílios.

No entanto chega outubro
Taciturno afio o dia.

A cortiça pode quebrar
O palanque é de madeira
A fome é de fornalha
Fogo & madeira...


Elmo Wyse Rodrigues

O poema foi publicado no livro FUGA Nº3. Depois, foi acrescentado o último verso. Virou música, mais precisamente uma valsa, com a colaboração do Marco e do Cristiano.

Foto do jornalista Vladimir Herzog. Enforcado. O seu corpo apareceu assim, sem explicação, durante o regime onde não havia liberdade nem democracia.



terça-feira, 27 de maio de 2014

"Esta Noite ficará na História.
Hoje executarei meus versos
na flauta de minhas próprias vértebras."

                 MAIAKÓVSKI
             
               (A Flauta-Vértebra)

domingo, 25 de maio de 2014


GENTIAN



Devo lapidar os sonhos
Eles coloridos, eu coragem
Na balada da incerteza
Desço a montanha ileso
No bafejo do otimismo

 Pablo Martin

sexta-feira, 23 de maio de 2014

DE UM TRAMPOLIM



As migalhas não quero.
Um porto desperto
Quando invadem as águas
E a maresia.
Não brotam janelas
Quando o pouco me resta.
A fresta, resíduo, enfim.
E o louco que canta
À beira da noite
Vigia a lua, é um querubim.
É mister a vigília:
O equilíbrio é a queda
De um trampolim.
Muito obrigado, amigo:
Não visto mortalhas, só força motriz.
O meu desatino
É buscar ser feliz.

Elmo Wyse Rodrigues

sábado, 17 de maio de 2014

HEATHER



De tanta vontade falar
Acabei diluindo o ego
Em porções generosas de ser
De novo solidário a ouvir
Sobretudo os nossos anseios

Pablo Martin

segunda-feira, 12 de maio de 2014

DESTERRO



Porque a vida aqui,
meu irmão,
corre e escorre,
entre o vazio do alicerce
e o desinteresse do cimento.


Elmo Wyse Rodrigues

sexta-feira, 9 de maio de 2014

MATILHA



Pensas
que minha poética
agride;

Que meu discurso
é puro
dogma;

Que sou
tão somente
panfleto;

Que estou
ferindo o
status quo;

Que o evangelho
ofender-se-á
com esta oração.

Se há algo radical
não está
no meu texto.

Outra coisa:
(quase me esqueço)
Quando saíres do Castelo,
tem cuidado.
A matilha ultimamente
anda com muita fome...

Elmo Wyse Rodrigues