terça-feira, 30 de janeiro de 2018

GRADATIVO


Tenho a mania
de me questionar.
Delibero, provoco
ou instigo?
Aos poucos, sobrevivo.

Viés de andanças,
doces e cruas,
permeio defesa
no círculo que couber.

o mecanismo se agride
desliga o instinto.
Briguei com a dopamina.

Ainda bem.
Escorrem da veia
premência & afeto.

Desarmo em métrica
o ancestral que abrigo.

E.W.R.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

PINTURA & PRIMÍCIAS
Conceberam-te
como uma utopia, 68;
um contravento, ativismo,
crise existencial...Estereótipos
não faltaram.


Te encarceraram, cortaram
as tuas veias, 68. Houve até
que tomasse teu sangue.


É que eles, os senhores do sistema,
acreditavam que eras feito só
de barricada, passeata e berro.
Não se davam conta
da tua essência: genes e semente.


Mais que ruptura,
eras pintura;
mais que sangria,
eras primícias...


Quando te dispersaram
com balas, tanques e porretes,
esqueceram de cortar a raiz
e cremar a tua filosofia.


Quando os teus carbonários
acordarem, servirás, 68, como plântula,
um memorial dissecado...


Tens frutos, pois,
espalhados pela Terra.
Estão verdes, ainda,
esperando a estação apropriada.


Uma fruta madura, todavia,
ninguém consegue abortar
ou reverter seu ciclo.


E.W.R.

domingo, 7 de janeiro de 2018

EMBARCANDO NESSE TREM PARA MADUREIRA

POIS estava chegando em casa. Ao abrir a caixa de correspondência, me chamou a atenção um envelope pardo. De um lado, sem anotações; de outro o meu nome. Não havia remetente. A curiosidade aumentou. Era  o novo livro do Magoli anunciando a sua chegada, SINCEROS ENGANOS. Daí entendi:

                       "às vezes
                        sinto-me só
                        como um homem
                        só
                                     diante de um jornal de ontem
                                     de uma fotografia envelhecida
                                     de uma carta sem remetente."

                                                     Magoli
                                             

MARCOS tem um jeito contundente de escrever. Assume a melancolia e a utiliza como  combustão verbal. Ama e não perde a paixão pelas esquinas, onde a vida pulsa e ecoa, com ou sem lirismo. Avesso aos falsos valores do nosso sistema:

                       "nunca aprendi
                        dar o nó
                         na gravata

                        nem desfazer
                        este nó
                        na garganta."

                              Magoli

As palavras encontradas, ou retidas, nos poemas são espelhos do imaginário. E vislumbram um futuro possível e sustentável. O Rio de Janeiro, e também outros estados, tem nos apresentado um verdadeiro COLETIVO de vates. A lira tem espaço, sim senhor. Tem um público atento, um grande número de sinceros leitores. MAGOLI está bem perto de nós. E com seu olhar também nos farsantes que ocuparam o poder:

                        "não sei  se boêmio ou guerrilheiro
                         entre bares becos barricadas desejos
                         beijos cervejas palavras bandeiras fuzis"

                                             Magoli

E com orgulho digo que MAGOLI inscreveu definitivamente o seu nome nas páginas da Literatura Brasileira com este livro vital para entendermos um pouco melhor o nosso mundo, tão desigual  e carente de pão e utopia. Ave poesia, ave irmão Marcos Magoli.

                                   Porto Alegre, janeiro de 2018


                                    Elmo Wyse Rodrigues