quinta-feira, 23 de março de 2017

AMÉRICA







                        O que fazer deste mundo senão sangrar?


                        As pétalas o cálice cortaram...


                        Um grito tribal acorda a vertente.


                        América chora! Chegou tua hora


                        A tua mestiça história ninguém calará!


                        Outrora cortaram tua língua


                        Em vários dialetos hoje gritarás.




                        O que fazer dos Andes senão sonhar?


                        Inútil falar da fotografia nevada


                        Servida em fatias, um doce jantar


                        Índios rebeldes,  domem a Constituição.


                        América  corta galeana as veias


                        Estanca a fome, a sede dos teus ancestrais
                        


                        O que faz um homem senão caminhar?


                         Menina atiça sangrando


                        E masca serena a igualdade do pão.


                        América vibra! Teus filhos chegaram


                        Ao sol se abraçam


                        Como um livro aberto.


                        Um ventre parindo.




                        América explode!


                        Sem vingança ou ode


                        Mas vigia as armas


                        Ou vão te trair...


                                       Elmo Wyse Rodrigues
 Eu escrevi este poema quando Rafael Correa e o Evo Morales foram eleitos. O Lula estava no primeiro mandato. A partir do momento que conheci a obra do Eduardo Galeano, entendi que a América é uma só, assim como a exploração, a fome e o sangue dos desvalidos, em nome do grande capital, também são um só.

domingo, 12 de março de 2017

SEM NOVIDADES


Estou de partida. Sem novidades. Cercado de marcianos. Vou para lugar nenhum. Como um bom corsário. A barra está pesada. Sol posto. Eu, exposto. Chega!
Estou de partida. Abençoado por niilistas, amaldiçoado pelos ingratos. Um abraço! De concreto. Multimídia. Pura hipocondria. Eu, deposto. Na clínica. Guilhotina. Um sartreano se foi. Cremado um corpo, sem testemunhas. Sobrevoando alguns urubus.
Estou de partida. Sem felicidade nem desespero. Um  vivente incansável e desaforado. Poeta independente. Confraria Barão D'itararé: adiós!
Aos trâmites, sem concessões. Antecipei adversidades, intolerância. Afasto as culpas. Quis viver. E foi só. Hedonismo? Talvez. Análise por minha conta e risco.
Uma dose de Natasha, outra de solidão. Revestido de humano, lá vou eu. O voo é leve, diziam. O sonho, possível. Não basta um bom coração. Infames! Golpistas!
Estou de partida. Levo comigo alguns poemas inéditos, o disco do Silvio Rodriguez, uma cartela de Rivotril, o entrecot argentino, as cartas ciganas, a camisa do Inter, a calça jeans, a gaita de boca, o tannat uruguaio, a torta de chocolate com morango e o beijo sublime da mulher amada. Não tenho mais novidades, graças a Zeus. Fui!



Rsrsrs...tirando algumas blasfêmias, o resto é pura fantasia.

quarta-feira, 1 de março de 2017

FLASH

Eu canto
e sei quem sou.

A poesia
é o flash de quem é
e de como poderia ser.

O que se é
não se representa.

Eu canto
e sou quem sei.

O que se é
se apresenta. 

E.W.R.