terça-feira, 9 de julho de 2013


 ESPELHO & FANTASIA


                       




Não posso me preocupar por que perguntam se não vou mais poetizar. Quando cantei na canção que não pretendia escrever, não lia ensaios, pouco sabia de mim. Dar publicidade ao silêncio. Eis a questão.  Lacan foi profundo demais quando publicou a sua angústia. Ultimamente prescrevo niilismo, logo pareço descrente ou triste vivente. O que gosto da vida, desinteressa, é banal. Um literato esperam. Assim como eu, confundem e consomem na mesma mesa um ancestral e a literatura. O apetite está no licor. Um dia um amigo falou, ao ler um poema: levaste mesmo três tiros? Respondi: muito mais! Na verdade mistifico demais. A arte nasceu da fábula, uma metáfora, briga de rua: um se dizia fariseu; o outro, diabo. Como eu tinha muitas vidas sangrando, traduzia  dramas. Porque ler  ficção entre profetas inebriados, ser druida na alucinação - essas criaturas já rondavam os burgos da classe média. Nada sei! Estou no meio do fantasma e a fantasia. Se quiserem mesmo saber, só escrevo na primeira pessoa por desígnio de quem luta e não sabe o jogo, a técnica de dividir em atos o laudo das escrituras. Há mais de trinta anos escrevo. Utopia e vontade. Sem pretensão. Esqueçam. Sou apenas um internauta cinza que caminha perto do espelho e  senta na cadeira para aplaudir a multidão.




                             E.W.R.


      
Prosa poética do livro inédito "Noturno Verbal"

2 comentários:

  1. Meu querido Poeta,

    obrigada,mais uma vez, por me dar a oportunidade de poder apreciar e viajar no seu imaginário poético. É, realmente,maravilhoso poder degustar por horas, pois ao ler tua prosa poética, fiquei por horas a pensar e refletir sobre tuas palavras. É, claro, que isso só me traz satisfação pessoal,íntima e transcendental. Me considero uma privilegiada(mil desculpas) em poder desfrutar desses momentos de prazer.

    Por vezes, me vi imaginando sobre as palavras "Espelho e Fantasia",e lembrei do filósofo alemão Heidegger, que ao escrever o Dasein(o ser em si mesmo),expressou da necessidade de olharmos para o reflexo da nossa imagem no espelho e buscarmos ver a nossa verdadeira essência.Também me transportastes aos poetas que tanto cantaram e representaram o imaginário através de símbolos,linguagens e também fantasia, afinal tudo não passa de representação e imaginação. Rosanne Cordeiro Branco.

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  2. Professora, sei dos teus compromissos com a Universidade, mas fica agora registrado o convite para escreveres o prefácio do "Noturno Verbal". Conseguiste decifrar perfeitamente como e por que escrevo. Abraços.

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